Rev. Cláudio Ramir Schreiber
Em Revista Teologia, A1#4 (link)
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INTRODUÇÃO
Um grande problema que toda humanidade sofre, e que possivelmente vem de
longa data, é a questão da superstição. Este certamente é um sério problema que
os cristãos, de maneira geral, enfrentam. Por isso neste trabalho queremos
abordar este tema, olhando para as consequências que as superstições trazem
para o mundo em geral. E sabendo que o pastor é o seelsorger (cura d’almas), e por isso tem por obrigação combater
estas coisas. Queremos aqui, de maneira breve, mostrar como o pastor guia o
povo de Deus para longe destas coisas, que na verdade levam para a condenação.
O pastor precisa saber lidar com as superstições que o povo tem, pois estas podem
estar incutidas na cultura, e muitas vezes, sem perceber, as pessoas já estão
sendo supersticiosas, de uma ou de outra forma.
Em primeiro lugar queremos falar sobre o que realmente vem a ser esta tal
de superstição, depois vamos ver porque nós cristãos somos contra e abominamos
esta prática, a partir daí, podemos perceber como o pastor pode lidar com
situações deste tipo, ensinando o que a Palavra de Deus diz, aplicando lei e
evangelho.
A SUPERSTIÇÃO
Definição
Nós podemos encontrar várias definições para superstição: o dicionário
Aurélio nos traz assim: “superstição: 1-
Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao
conhecimento de falsos deveres, ao receio das coisas fantásticas, e à confiança
em coisas ineficazes; crendice; 2- Crenças em presságio tirados de fatos
puramente fortuitos; 3- Apego exagerado e/ou infundado a qualquer coisa.”[1]
O que é superstição
É
engraçado como este problema da superstição não tem fim, já estamos no ano 2001
e ele persiste, as pessoas não abandonam isso em hipótese alguma.
Podemos dizer que superstição não é
apenas brincadeira ou passatempo, eu diria até que podemos chamar de religião,
por causa da fé que as pessoas dirigem a coisas, objetos, a pessoas, e porque
não dizer ao demônio, também chamamos de idolatria. Certa vez escutei um pastor
em um sermão dizendo o seguinte: “Quem liga o rádio pela manhã, e escuta o
horóscopo, está deixando que o Diabo entre dentro de sua casa...”, por isso
digo que superstição é idolatria, “coisa que o Diabo gosta”.
Enquanto a verdadeira fé em Deus
consiste em confiança em Deus, conhecimento de Deus, obediência a Deus, amor,
dedicação, esperança, adoração a Deus; a superstição coloca o homem diante do
poder das trevas, do Diabo, e quem se entrega a este tipo de coisa, certamente
está caminhando para a perdição eterna.
Podemos tirar a seguinte conclusão
disso tudo: superstição é pecado, e tira a salvação do cristão, se ele não
reconhece e se arrepende.
A superstição está se tornando uma
nova ciência, uma nova crença com os seus muitos adeptos. O significado
original da palavra superstição é “ pôr
cima ”, que vem da palavra latina “supertitio”,
representa aquilo que está acima da possibilidade humana, o reconhecimento de
uma força superior[2].
Muitos tem esta crença acima de fé em Deus. Uma “crença” que quer saber mais do
que as verdades que Deus revelou na Bíblia.
Superstição, podemos afirmar que é uma repetição contínua do pecado, ou
seja, a vontade de ser como Deus para manejar as forças encobertas e
misteriosas. Ou também, uma nova “ciência” para aqueles que não aceitam Deus
como o Senhor da sua vida, daqueles que querem ser o próprio senhor da sua
vida, que querem ser como Deus (Gn 3.4,5).
Vemos o surto da superstição no cumprimento das palavras do apóstolo
Paulo em 2 Timóteo 4.3,4. Onde Paulo exorta para que a pregação da Palavra seja
mantida sempre, com perseverança, pois os homens, por causa da cobiça e
ignorância, deixarão surgir novas doutrinas, e
“deixarão de dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas.”[3]
E não é isso que acontece hoje, as
pessoas estão se deixando levar por estas “fábulas”, que apenas fazem mal para
a alma do ser humano, pois leva certamente a condenação, e o que o ser humano,
convertido pelo Espírito Santo, quer, é a salvação mediante Cristo, e não a
condenação e sofrimento. Por isso a pregação da Palavra de Deus nunca deve
deixar de ser pregada, pois Deus nos dá assistência para isso, e os que estão
fora da Igreja cristã, precisam ser trazidos para dentro dela, para que sejam
salvas também.
EXEMPLOS DE SUPERSTIÇÃO
Quanto
mais o homem avança em descobertas e técnicas, mais se mete em feitiçarias e
superstições. Assim sendo, cada jornal que se abre traz um horóscopo e, muitas
vezes, as mais variadas receitas e simpatias para os mais variados problemas.
Muitos se apegam a objetos, amuletos, como: figas, trevo de quatro folhas,
meias luas, pata de coelho, cavalos marinhos, ferraduras e tantas outras
coisas.
Existem
também os serviços de baralho e leituras das mãos, para prever o futuro e o
despacho, o passe e a reza para resolver qualquer problema da vida.
Na verdade, hoje vemos que pode-se
ganhar muito dinheiro com a superstição dos outros, é um negócio muito
lucrativo, pois os supersticiosos não tem medo de gastar com as coisas que “dão
sorte”.
Assim
como para os supersticiosos existem as coisas que dão sorte, tem também as
coisas que “dão azar” e que, ao ver deles, devem ser evitadas. É o caso de:
è passar por baixo de uma escada;
è sair da cama com o pé esquerdo;
è o número 13;
è entrar por uma porta e sair por outra;
è gato preto;
è varrer o lixo para fora de casa, e tantas outras
coisas que a “sabedoria” popular tão bem conhece.
É incrível como muitas pessoas não
fazem certas coisas por medo do azar. Temos um exemplo disso dado pelo pastor
Herberto Hoerlle, quando ia realizar o seu ano de prática no norte do Paraná,
teve que pernoitar em Curitiba, e chegando a um hotel, só tinha o quarto treze
disponível, o hoteleiro disse com todas as palavras que era um quarto que dava
azar pelo número.[4]
CAUSAS DA SUPERSTIÇÃO
A ação do diabo é a primeira e a mais forte. O homem é
essencialmente religioso, ele precisa crer em alguma coisa. Daí as diversas
crenças. Todos crêem. O diabo, aproveitando essa necessidade do homem de crer
em alguma coisa, apresenta-lhe uma vasta
gama de recursos para todos os fins.[5]
As várias causas vemos a seguir:
è A insatisfação do sentimento religioso. Pessoas que
estão insatisfeitas com a sua religião, buscam outros meios para os seus
problemas.[6]
è A doença. A doença é o mal que mais aflige o homem:
por isso, no combate à doença, a superstição encontra o terreno mais propício e
fértil, todos querem Ter esperança de cura..
è O fantástico. A inclinação do homem para o
fantástico, para o maravilhoso, para o inesperado, para as intervenções do além
são um grande apoio na difusão da superstição.
è A curiosidade. O grande desejo de tudo saber, tudo
experimentar, é outra fonte que apóia o crescimento da superstição. No caso da
curiosidade, desempenha papel importante a cartomancia
(leitura do futuro pelas cartas), a quiromancia
(leitura do futuro pelas mãos), o horóscopo...
è A literatura supersticiosa, que invadiu o mercado
livreiro. Livros como: O Manual das Cartomantes, O Livro dos Sonhos, Guia
Astrológico, Planeta, etc. isso faz aguçar a curiosidade do povo.
Estas são algumas causas da superstições, é por tudo
isso, e certamente por muito mais, que a superstição existe.
CONSEQUÊNCIAS DA SUPERSTIÇÃO
A
primeira conseqüência da superstição é o castigo de Deus. Dt 18.9 nos diz: “... não aprenderás a fazer conforme as
abominações (os costumes nojentos) daqueles povos.” E ainda o versículo 12,
diz: “... todo aquele que faz tal coisa é
abominação ao Senhor”, e o versículo 14 encerra dizendo: “... a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal
coisa. A Palavra de Deus é clara, é pecado, Deus não aprova, e quem não
abandona a superstição vai para o inferno.
Outra conseqüência é a perda da fé
cristã. O supersticioso deixou a fé baseada na Bíblia, porque a superstição é a
fé que anda no caminho proibido, é a fé desviada de Deus (Sl 73.27), tudo que
contradiz a Cristo, é superstição.[7]
O pecado está em colocar a fé em coisas e práticas supersticiosas e delas
esperar proteção, pois, ao agir assim, está se aceitando essas coisas como
salvador e Deus e, é adorar a criatura em lugar do Criador. Na superstição, já
não se espera de Jesus Cristo a paz de espírito e toda a proteção, mas, sim,
destas determinadas coisas e práticas, isso porque o supersticioso está vivendo
sob o dominio de Satanás, e como diz Leopoldo Heimann, “os supersticiosos estão com as suas almas envenenadas pelo cheiro do
fogo do Inferno”.[8]
Desta forma, o supersticioso peca
contra o 1º Mandamento, que diz: “Eu sou o Senhor, teu Deus. Não terás outros
deuses diante de mim.” (Êx 20.2,3). O supersticioso não quer saber da Palavra
de Deus, não quer saber da Igreja, pode ser que até vá, mas na verdade, a fé
verdadeira está na superstição.
Estas são as consequências para quem é supersticioso, consequências
graves que ninguém quer para si, por isso, a seguir veremos o que o pastor,
como o conselheiro, o que guia o povo de Deus pela Palavra e sacramentos, deve
fazer para que a superstição seja esquecida, e os membros tenham nova vida.
A SUPERSTIÇÃO SOB O PONTO DE VISTA CRISTÃO
O pastor deve Ter em mente justamente o que já foi dito antes, o que é,
quais as causas, as consequências que a superstição traz para quem acredita
nela. A partir daí ele pode trabalhar melhor esta questão. Ao meu modo de ver o
pastor não deve tentar pegar casos separados dentro de uma paróquia, a não ser
que o caso seja muito grave, mas o pastor deve ser convincente a toda uma
congregação, pela Palavra de Deus, pois assim o Espírito Santo pode agir.
Talvez alguns passos deveriam ser seguidos ao “ensinar” a respeito da
superstição:
O primeiro deles seria mostrar ao povo o que a Palavra de Deus diz sobre
isso, textos não faltam para mostrar o que Deus pensa disso, e o que acontece
com quem confia em superstição. A partir daí vem os outros passos, que são
simples, e mostram como o cristão deve reagir com respeito a este e algum outro
pecado.
A partir daí, o que o cristão deve
fazer é o seguinte:
1° Reconhecer o pecado da superstição, assim como reconhece qualquer outro
pecado
2º Confessar este pecado, dizer a Deus que cometeu pecado contra Ele, que
esteve longe da fé, e pedir o perdão, que certamente Deus dá.
3° Abandonar o pecado da superstição, não mais procurar nada que tem a
ver com superstição.
4º Odiar o pecado da superstição, destruir tudo o que tem a ver com a
superstição, e abominar isso, a fim de mostrar aos outros qual é o caminho
certo.
5° Crer em Cristo, este é o passo
mais decisivo que precisa ser dado. Isso porque nós somos propriedades de Deus,
e nem o Diabo pode vir nos tocar e nos levar para o lado dele, para isso Deus
nos dá oportunidades para que possamos segui-lo de todo o coração. A Palavra de
Deus deve ser o alicerce de nossa vida em tempo integral, e principalmente
confiar nas promessas que a Palavra de Deus nos dá.
Deus nos protege e nos guarda, e se estamos firmados nele, resistimos
qualquer tentação, qualquer dificuldade, qualquer provação, pois ele estará
conosco dando-nos força e capacidade para isso.
6º Resistir ao pecado, assim como diz em Efésios 6.10-18. Assim podemos
ver que a armadura de Deus é a seguinte:
A verdade – Jesus é a verdade
A justiça – A justiça de Cristo (Rm 8.33)
O Evangelho – é o poder de Deus para salvar a humanidade (Rm 1.16)
A salvação – a esperança da salvação nos anima a lutar contra estas
coisas que não pertencem a Deus.
A Palavra de Deus – É a arma ofensiva do Cristão para se defender, bem
como atacar ao diabo, e os seus seguidores.
O pastor precisa estar consciente que o problema da superstição existe, principalmente no Brasil,
e que isto tem que ser abolido, pois o cristão de verdade não suporta isso. Por
isso, se o pastor usar a Palavra de Deus, certamente as pessoas se convencem, e
se arrependem, pois o Espírito Santo vai agir, mostrando que quer a salvação de
todas as pessoas que crêem.
Conclusão
Este trabalho foi apenas para mostrar com este problema é complicado, pois envolve religiosidade. Muitos acreditam que isso tenha força mesmo, e isso precisa ser trabalhado pelo pastor. Nós vimos que o pastor tem que saber lidar com esta situação, pois a superstição pode até estar incutida na cultura de determinado lugar, por isso complica.
O que o pastor deve fazer, é justamente aplicar a Palavra de Deus, usar
lei e evangelho, o resto Deus faz com seu Espírito Santo, como pastores, nós
não somos deuses, mas instrumentos do Deus verdadeiro para que as pessoas
cheguem a verdade, e possam ser salvas pela verdadeira fé em Cristo, dada pelo
Espírito Santo, e fazer também com que as pessoas se neguem a praticar a
superstição, pois ela não salva, mas condena eternamente.
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio – Mini Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª ed.
Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1993.
JUCKSCH,
Alcides. O pecado da superstição. 3ª ed. Sinodal. São Leopoldo, 1969.
(Evangelizando
o Brasil – Caderno 01)
Mensageiro Luterano – Editora Concórdia
HATTEN, Willem C. Van. Superstição é abominação ao Senhor.
In Mensageiro Luterano, março de
1980
HEIMANN,
L. Superstição – obra de Satanás. In
Mensageiro Luterano. Fevereiro de 1967.
HOERLLE,
Herberto. Superstição na forma em que mais se manifesta. In Mensageiro
Luterano,
Agosto de 1963.
Horsch, Hans. Superstição – poucos falam, muitos
praticam. In Mensageiro Luterano. Agosto de
1985.
KOCH,
Kurt E. Fé e superstição. In Mensageiro Luterano. Junho de 1968.