C. Variedade Litúrgica e Uniformidade
Os
Luteranos, de forma geral, tomam seriamente a máxima confessional: “não é
necessário que as tradições humanas ou os ritos e cerimônias instituídos pelos
homens sejam semelhantes em toda parte.”[1]
O rito básico do “Lutheran Worship” e do “Lutheran Book of Worship” oferecem
muitas opções e alternativas. As congregações têm o direito de formatar as
práticas do culto em suas comunidades. Isso não significa, porém, que o Culto
Luterano esteja propondo uma anarquia litúrgica. Uma das orientações sinodais
básicas da Igreja Luterana sempre foi de que devesse existir tanta unidade
litúrgica quanto possível.[2] Essa unidade no rito é estabelecida pelo
“é” das rubricas nos cultos. Todas as rubricas que indicam uma ação, “é” para
ser realizada e considerada como obrigatória. Outras rubricas admitem, a ação
“pode” ser realizada. Infelizmente a ordem do Culto Principal I e II do nosso
Hinário Luterano não vêm com rubricas, porém isso não acontece com o “Lutheran
Worship” (LW) por exemplo. No LW todas as orientações estão rubricadas (em
vermelho). A primeira orientação das três ordens de culto apresentam uma
rubrica que diz que um hino de invocação pode
ser cantado antes da Invocação Trinitária. Por outro lado, após a Absolvição, o
Intróito, um Salmo designado para o dia, ou um Hino de Entrada é cantado.[3] As rubricas obrigatórias e não
obrigatórias estabelecem o rito básico, mas permitem que a congregação local
molde o seu culto a partir delas.
A
congregação local ainda possui outras oportunidades de formatar o seu culto, ao
fazer uso das chamadas partes alternativas das ordens do culto. Em alguns
períodos do Ano Eclesiástico, por exemplo, o “Gloria in Excelsis” pode ser substituído por outro cântico. O LW
substituiu o “Gloria in Excelsis” na
sua primeira ordem, pelo cântico “Come,
Oh, Come, Immanuel”, e na segunda, por “This
Is the Feast”.[4]
No Hinário Luterano, as opções oferecidas são os hinos 230 e 231. Existem
alternativas também para o Ofertório e para outras partes maiores do culto.
No
caso do LW, a intenção é propor um rito unificado, permitindo que a prática das
congregações locais formatizem o culto de acordo com as suas necessidades e condições,
com maior ou menor simplicidade, ou com maior ou menor requinte.
D. A Celebração da Vitória de nosso Senhor
Os cultos corporativos da Igreja Luterana
são celebrações da vitória de nosso Senhor Jesus Cristo. Eles proclamam a ação
salvífica de Deus por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Nossos
cultos celebram que Jesus abriu as portas dos céus por nós, mediante sua vida,
morte e ressurreição. Nossos cultos não celebram um Jesus de Nazaré
recentemente morto, e sim, testemunham a ressurreição de Cristo pela
proclamação, pregação, louvor, ações de graças, e o Sacramento. Pela
proclamação da Palavra e pela celebração e administração do Sacramento, Jesus
Cristo está presente em nosso meio, de acordo com suas promessas. E de fato Ele
está conosco até o fim dos tempos (Mt 28.20).
E. O Culto Principal I e II em Detalhes
CULTO
PRINCIPAL I
CULTO
PRINCIPAL II
Hino de Invocação
Hino de Invocação
Invocação
Invocação
Exortação e ou
Alocução Confessional
Alocução
Confessional
Confissão e
Absolvição
Confissão e
Absolvição
Introito:
Antifona, Salmo, Gloria Patri, Antifona
Introito
Gloria Patri
Kyrie
Kyrie
Gloria in
Excelsis
Gloria in
Excelsis
Saudação
Saudação
Oração do Dia
Coleta
Leitura do
Antigo Testamento
Leitura da
Epístola
Epístola
Gradual ou Hino
do Gradual
Hino
Leitura do
Evangelho
Evangelho
Confissão da
Fé: Credo Niceno ou Credo Apostólico
Hino do Dia
Hino
Sermão
Sermão
Confissão da
Fé: Credo Niceno, Credo Apostólico, Hino do Credo, Credo Atanasiano ou
Explicação dos Três Artigos do Credo
Ofertório
Oração Geral
da Igreja
Recolhimento
das Ofertas
Recolhimento
das Ofertas
Oração Geral
Obs.: Não
havendo Ceia,
segue: Pai
Nosso, Hino,
Oração e Bênção
Obs.: Não
havendo Ceia,
segue: Pai Nosso, Hino,
Oração e Bênção
Ofertório ou
Hino de Santa Ceia
Hino
Prefácio
Prefácio
Sanctus
Sanctus
Pai Nosso:
Oficiante, Coro ou Congregação
Pai Nosso
Oficiante
As Palavras da
Instituição
As Palavras da
Instituição
Pax Domini
Pax Domini
Agnus Dei
Agnus Dei
Distribuição
da Santa Ceia
A Distribuição
Ação de
Graças, ou Nunc Dimittis ou Hino apropriado
Nunc Dimittis
Ação de Graças
Saudação
Benedicamus
Bênção
Bênção
1. Preparação
A preparação pode iniciar com um hino de
invocação. Este hino opcional pode ser omitido se a extensão do culto for um
ponto a considerar. As partes liberadas, para serem omitidas, estarão
assinaladas nas rubricas com a expressão “pode”.
Como pode ser observado, o Culto Principal
I e II são muito semelhantes. Ambos iniciam com a Invocação do Deus Triúno.
Convém salientar que esta é uma Invocação.
Não estamos apenas sendo lembrados de que o Deus que adoramos é Pai, Filho e
Espírito Santo. Estamos pedindo para que o único Deus verdadeiro esteja em
nosso meio, esteja em nossos corações, ao lhe oferecermos o nosso culto e o
nosso louvor.
Ambos os cultos convidam os penitentes a
examinarem cuidadosamente as suas consciências, para então, chamá-los a uma
Confissão geral dos pecados. As duas ordens apresentam duas formas de Confissão e Absolvição. Uma mais direta
e pessoal, outra mais genérica e declaratória.
É interessante observar uma evolução nas
ordens de culto do antigo para o novo Hinário Luterano. No antigo Hinário
tínhamos uma ordem para cultos sem Santa Ceia e outra para cultos com Santa
Ceia. No novo Hinário temos duas ordens completas com Santa Ceia, apenas
prevendo a eventualidade de cultos sem Santa Ceia. Fica evidente que a intenção
no novo Hinário é a de estimular cultos regulares com Santa Ceia.
Não existe nada do ponto de vista
teológico e litúrgico que apontem para a necessidade de uma Confissão precedente à Santa Ceia.[5]
Mesmo que o costume e o discernimento pastoral apontem para o valor de uma Confissão e Absolvição na maioria das
vezes, as circunstâncias podem demandar que o culto inicie com o Introito, ou Salmo de Entrada ou Hino de
Entrada.
A ordem do Culto Principal I aponta para o
fato de que a Confissão e Absolvição
é um ato de preparação. Essa preparação pode apropriadamente ser conduzida da
entrada da igreja, antes do processional de entrada. Neste caso, a congregação
volta a sua face para o ministro presidente. Ela também pode ser conduzida da
fonte batismal, caso esta esteja localizada à entrada da nave (mais comum em
igrejas luteranas europeias e norte-americanas e, principalmente, em igrejas
Católico-Romanas), devido à íntima relação existente entre o Batismo e a Absolvição.
2. Ofício da Palavra
O Ofício da Palavra inicia com um Introito, que consiste de versos de
Salmos selecionados para o dia, o Salmo do dia, ou de um Hino de Entrada.
Originalmente, o Introito consistia
de um Salmo de Entrada, que por decreto papal (432 A.D.) era cantado
antifonicamente (responsivamente), por um coro duplo, por ocasião da entrada do
ministro presidente e seus assistentes. Por volta do ano 600 A.D., Gregório
Magno abreviou este Salmo, dando origem à forma reduzida que encontramos até
hoje em uso. Lutero preservou esses introitos, mas sempre mostrou preferência
por Salmos completos.[6]
É interessante observar que existem várias
opções. Se a congregação tiver um coro disponível, seria apropriado que o Salmo
ou o Introito fosse cantado pelo
coro. Por desconhecimento, a maioria das congregações da IELB tem utilizado
quase exclusivamente Salmos responsivos. Raramente se utilizam do Hino de
Entrada e quase nunca do Salmo cantado pelo coro. Há uma tendência ao retorno
de Salmos cantados pelo coro ou pela congregação na Igreja Luterana.
Na medida em que entramos na parte
principal do culto, convém rever a diferença entre Rito e Cerimônia e sua
aplicação nas diferentes partes. O Rito
é o texto do culto. O Rito é
salientado nas rubricas obrigatórias do culto. Elas definem o que deve ser
feito cada vez que cristãos se reúnem em nome do Senhor. Tais rubricas não
foram escritas por mero capricho, mas foram cuidadosamente planejadas, levando
em conta as normas históricas e teológicas do culto. Quando cristãos se reúnem,
eles oram, leem as Escrituras, ouvem a explanação da Palavra de Deus,
apresentam suas ofertas e celebram o Sacramento do Altar. As rubricas existem
para indicar claramente que tais coisas devem ou podem fazer parte do nosso
culto luterano.
O Rito
pode ser enriquecido ou ampliado, de acordo com o caráter festivo do dia ou do
período. As Cerimônias (as ações
recomendadas) que estão sendo sugeridas a seguir, levam em consideração os
princípios teológicos e históricos apresentados anteriormente.
Considerando que o Ofício da Palavra está
centrado na leitura, na pregação e nas orações do povo de Deus, estas partes
poderiam apropriadamente serem feitas fora do altar, em um púlpito de leitura
(ambão), reservando o altar exclusivamente para a celebração da Ceia do Senhor.
Desta forma, se criaria dois focos de concentração maiores, um para a Palavra e
outro para o Sacramento, visivelmente evidenciados no altar e nos púlpitos — o
de leitura e o de pregação.
As rubricas deveriam antecipar todas as
ações do culto, indicando as partes do ministro presidente, dos assistentes e
da congregação, quando algo deve ser cantado ou falado. No caso de haver a
indicação para o canto por parte do ministro presidente, isso não significa que
o mesmo deveria fazê-lo como se fosse um cantor de ópera e sim, falar cantando.
Por outro lado, se ministros cantam, a congregação deve responder cantando. Se
ministros falam, a congregação responde falando.
Existem ordens que seguem a Formula Missae e que invariavelmente
recomendam o uso do Kyrie e do Gloria in Excelsis. Outras ordens
alternativas, porém, indicam o Kyrie
e o Gloria in Excelsis como formas
opcionais e recomendam que durante os períodos comuns, ou períodos verdes
(Epifania e Pentecostes), sejam omitidos, reservando o seu uso para os períodos
festivos. O uso do Kyrie recomendado
para o Advento e a Quaresma, enquanto o Grande Hino de Louvor deve ser usado
durante o Natal e a Páscoa.
A Oração
do Dia é a primeira grande oração variável do culto, também chamada de Coleta por reunir todos os nossos
pensamentos num parágrafo simples e objetivo. Existem as coletas históricas que
têm acompanhado a igreja ao longo dos séculos, mas que carecem de uma
atualização na linguagem. A Comissão de Liturgia está concluindo a elaboração
de uma nova série de coletas que levam em consideração as leituras da Série
Trienal[7].
São duas orações por Domingo, uma considerando a segunda leitura e a outra, a
primeira leitura e o Evangelho. A Oração
do Dia é precedida pela saudação e o seu responso. Essa é uma bênção mútua
entre pastor e congregação, congregação e pastor. As rubricas luteranas
reservam essa oração exclusivamente ao ministro presidente.
As leituras bíblicas[8]
e sua exposição são os elementos fundamentais do Ofício da Palavra. A Primeira
e a Segunda Leitura podem ser feitas por um ministro assistente, esta era a
função do diácono e do sub-diácono na Missa
Solemnis. As leituras indicadas para uso no culto são em número de três. A
Primeira Leitura é normalmente do Antigo Testamento, as únicas exceções são: o
Batismo de Jesus (1º Domingo após Epifania) e o período da Páscoa, quando na
Série Trienal as leituras são extraídas de Atos dos Apóstolos. A Segunda
Leitura, normalmente um trecho de uma Epístola, excepcionalmente no período da
Páscoa, na Série C, é substituída por trechos do Apocalipse, e no dia de
Pentecostes, nas três Séries, é substituída por Atos dos Apóstolos.
O Santo Evangelho é cercado com grande dignidade
e honra, pois reporta às palavras de nosso Senhor Jesus. Ouvir o Evangelho é
ouvir a Cristo. Marcamos a dignidade do Evangelho com responsos antes e depois
da sua leitura. Um costume muito antigo, mas muito apropriado, é a procissão do
Evangelho, carregando o livro em meio a “tochas de fogo” até o centro da
igreja, particularmente nos dias de grande festa do Ano da Igreja.
Ordinariamente, a Leitura do Evangelho é feita pelo ministro presidente, visto
constituir-se frequentemente no texto da pregação.
A ordem do Culto Principal II aponta a
recitação do Credo logo após a Leitura do Evangelho. O Credo sumariza a fé
cristã ouvida nas Escrituras. O Credo Niceno deve ser usado em cultos com
celebração da Santa Ceia. O Credo Apostólico pode ser usado em outras ocasiões,
especialmente em celebrações batismais e confirmações. Caso o Credo tenha sido
usado por ocasião do Batismo, ele não precisa ser repetido mais tarde.
O Hino antes do sermão não é considerado
opcional pelas rubricas luteranas. Este é o Hino do Dia. Na Igreja Luterana ele
tem sido considerado o Hino Principal (Hauptlied),
e tem como função preparar a congregação para o sermão e por esta razão, sempre
foi selecionado com o maior dos cuidados. Em muitas ordens de culto do século
XVI, tais hinos eram selecionados e prescritos para cada Domingo e Dia Festivo
do Ano Eclesiástico. Muitos desses hinos foram traduzidos e preservados nos
Hinários Luteranos contemporâneos.
O sermão nunca é opcional, mesmo um
simples culto de dia de semana demanda que a Palavra de Deus seja lida e
explicada ao povo. A pregação na teologia luterana é a viva voz do Evangelho.
Jamais deve ser omitida. O ministro presidente geralmente prega o sermão.
Exceções podem ser feitas em ocasiões especiais, quando há pregadores convidados.
A Ordem do Culto Principal I indica o uso
do Credo após o sermão.[9]
A colocação do Credo após o Sermão, visa salientar o uso da compreensão
teológica do Credo como sumário da Palavra de Deus. Ouvimos a Palavra de Deus
nas Leituras. A Palavra de Deus foi proclamada na pregação, a viva voz do
Evangelho. O Credo se torna o sumário desta fé bíblica, lida e exposta. O Credo
Niceno é indicado para uso em celebrações do Sacramento do Altar. O Credo Apostólico
em todas demais ocasiões.
O culto continua com o ofertar das
orações. Este é um papel específico dos ministros assistentes. Na igreja
antiga, o diácono saindo do meio da congregação, como representante da
congregação, trazia todas as necessidades, louvores, ações de graças, diante do
trono de Deus. Não existiam formas de orações pré-elaboradas, mas eram feitas
sugestões para petições. Após cada petição, a congregação recebia a
oportunidade de responder. A oração era concluída pelo pastor no seu papel de
ministro presidente. É apropriado, segundo as rubricas, oferecer essas orações
do púlpito de leitura.
O Culto Principal I, ao inverter a Oração
Geral da Igreja e o recolhimento das ofertas, procura introduzir uma inovação
que traz de volta uma antiga prática da igreja cristã de, entre as ofertas que
são trazidas até o altar, incluir o pão e o vinho a serem utilizados na Santa
Ceia. Também as ofertas em dinheiro são recebidas neste momento e, preferencialmente,
depositadas numa credência, ao lado do altar, pois esta é a hora de
preparar a Ceia do Senhor.
Não havendo celebração da Santa Ceia o
culto conclui com Pai Nosso, Hino, Oração e Bênção.
3. Celebração da Santa Ceia
O Ofertório é mais uma inovação no Culto
Principal I, dando início a preparação para a Santa Ceia. O pão e vinho são
preparados e trazidos pelos ministros assistentes e depositados sobre o altar.
À medida que o ministro presidente se
aproxima do altar, algumas coisas precisam ser ditas. As Ações do Prefácio à
Consagração são reservadas exclusivamente ao ministro presidente segundo as
rubricas luteranas. É ele, que pelo ato da ordenação e seu chamado, foi
designado para ser o pastor que age em nome e em lugar do Senhor. O papel
próprio do pastor como ministro presidente é o de pronunciar a absolvição,
pregar o sermão e celebrar o Sacramento. É precisamente essa a sua obrigação,
nos termos de seu chamado pela congregação.
No que concerne ao altar, não existem
recomendações definitivas quanto ao estilo. Sabemos que Lutero tinha
preferências por um altar removido da parede e há uma forte tendência de seguir
esta orientação de Lutero. Até a Idade Média, o celebrante ficava de frente
para o povo, permanecendo atrás da mesa do altar. A introdução de relíquias que
iam sendo estocadas atrás do altar, forçaram o celebrante a passar para a
frente do mesmo, ficando de costas para o povo. As congregações que se sentirem
à vontade com esta recomendação, devem sentir-se livres para fazê-lo.
Apesar de Lutero ter abandonado
integralmente a oração eucarística por razões teológicas, muitos estudiosos da
liturgia criticam a sua atitude radical e falta de coerência em não preservar o
que não fosse contrário à Escritura. Pensa-se hoje em restaurar a oração
eucarística purificada de seus abusos.[10]
O próprio LW nas ordens de culto I e II,
incluem orações antes das palavras da instituição, com o argumento de manter-se
em consonância com as ações de nosso Senhor ao dar graças por ocasião da última
Ceia, bem como a prática histórica da igreja. Esta oração lembra a obra da
salvação (anamnesis) e invoca a ação
do Espírito Santo sobre o seu povo (epiklesis)
pedindo uma recepção digna do Sacramento. Esta oração é seguida pelo Pai Nosso.
Na teologia luterana, as palavras da
instituição são elemento essencial na consagração do pão e do vinho. São elas
que contêm a Palavra da Promessa de Cristo com relação ao pão e o vinho, ao seu
corpo e sangue. É apropriado segundo as rubricas, fazer o sinal da cruz no
momento de pronunciar as palavras “isto é meu corpo” e “isto é o meu sangue”.
Também é apropriado tomar nas mãos o pão, ao pronunciar as palavras “tomou o
pão” e semelhantemente também “tomou o cálice”.
A Igreja da Confissão de Augsburgo
tradicionalmente fez uso do cálice comum na Santa Ceia. O uso de cálices
individuais é uma inovação recente, pertencente ao século XX. Foi introduzido
pela Igreja Luterana imitando denominações protestantes que deixaram de usar o
vinho no Sacramento, substituindo-o por suco de uva. Sem o conteúdo alcoólico
do vinho, o uso do cálice comum foi considerado anti-higiênico e insalubre, por
causa do perigo do contágio de doenças infectocontagiosas. Com isso, muitos
luteranos acharam por bem abandonar seu uso, o que não era necessário,
considerando que o vinho utilizado pelos luteranos contém álcool.
As duas ordens do nosso Hinário Luterano
prescrevem uma saudação da paz de Deus entre ministro presidente e congregação.
Se a congregação desejar, essa paz pode ser compartilhada entre os membros por
meio de um aperto de mão ou de um abraço. O partilhar da paz reproduz em
roupagem moderna o ósculo da paz bíblica, apostólica e pós-apostólica. O mesmo
era partilhado de homem para homem e de mulher para mulher. O gesto moderno de
apertar as mãos parece ser uma reprodução adequada desta antiga prática. Mas
deve ser mais do que um mero “bom dia”. Não é o momento para conversa fiada e
trocas de informações. É um momento para saudarmos uns aos outros como irmãos
redimidos no Senhor.
Segue-se o cantar do Cordeiro de Deus.
Esta não é uma parte opcional, mas obrigatória do Rito. Este é o último hino de louvor antes de Cristo vir a nós na
Santa Ceia.
O ministro presidente e os ministros
assistentes participam da Ceia antes de ser distribuída à congregação. Aqueles
que distribuem as dádivas sagradas, devem eles próprios experimentá-las
primeiro. Os perdoados oferecem o perdão por meio da distribuição do
Sacramento. Para manter o precedente histórico, é próprio que o ministro
presidente se auto-comungue e depois comungue os seus assistentes. É totalmente
desnecessário e sem sentido que o ministro presidente se faça comungar por um
de seus assistentes antes de dar-lhes a comunhão.
Cada congregação desenvolveu um método
próprio de distribuição do Sacramento. A questão de experimentar novas maneiras
de distribuição deveria ser precedida de reflexão adequada. Não inovar pelo
espírito de inovar; o objetivo deve ser distribuir o Sacramento de forma
reverente, sem perda de tempo, mas sendo eficiente e não descuidando do
significado do que se está fazendo.
Caso os elementos consagrados tenham sido
consumidos totalmente, o ministro presidente deverá consagrar novos elementos,
fazendo-o de forma que todos o percebam.
Observe-se que as palavras da distribuição
não são opcionais; elas tornam claro ao comungante e à congregação de que
Cristo está verdadeiramente presente no Sacramento.
A despedida é propriamente reservada para
o ministro presidente. Ele é o servo de Deus chamado e ordenado naquela
congregação e deve cumprir responsavelmente o seu papel.
Cânticos de pós comunhão são providos em
ambas as ordens de culto. Recomenda-se que, durante o cantar desses cânticos ou
de um hino apropriado, os ministros removam do altar os utensílios,
devolvendo-os à mesa da credência ou como acontece na igreja Católica Romana,
depositando-os no sacrário.
Os vasos sagrados, tanto no altar quanto
na credência, devem ser cobertos. Após o culto o cálice pode ser esvaziado na
terra ou derramado na fonte, especialmente reservada para tais finalidades no
santuário, desde que o dreno desta esteja diretamente ligado à terra. Os
ministros podem reverentemente tomar o restante do vinho do cálice. O pão
consagrado pode ser consumido pelos ministros, ou cuidadosamente removido da
patena e do cibório e ser guardado para a próxima comunhão.
A conclusão da ordem de culto I é mais
breve e objetiva do que a II. O momento da pós-comunhão não tem razão de ser
prolongado e assim se tornar dispersivo e anti-climático.
V - Palavras Finais
Mudanças ligadas ao culto muitas vezes
provocam resistências. A igreja precisa tratar com seriedade as ansiedades
daqueles que se sentem ameaçados pelas mudanças litúrgicas. A mudança é
especialmente ameaçadora para a igreja porque a religião e a liturgia falam de
nossos valores básicos. A mudança pode implicar a alteração desses valores e
gerar dúvidas sobre os mesmos. É preciso enfatizar que mudanças na ordem de
culto não procuram mudar ou alterar nosso verdadeiro culto ao Triúno Deus.
Precisamos lembrar que o culto, como todas
as ações humanas, está sujeito a distorções e deterioração. A liturgia
necessita de constante clarificação, para que não se torne presa do cerimonialismo.
Nem sempre convém falar a cristãos sobre práticas litúrgicas como sendo
corretas ou incorretas. O que precisamos fazer é perguntar-nos se nossas
práticas litúrgicas estão servindo de apoio ou de distorção para a nossa
compreensão da fé cristã e de ministério. Nosso culto precisa estar em harmonia
com a nossa teologia e vice-versa.
Não se deve pensar que mudanças em nossas
práticas de culto resolverão todos os problemas da igreja. Também não devemos
dar a entender que formas antigas de culto estão incorretas. Não se ganha nada
em criticar formas antigas de culto. A introdução de novas formas de culto deve
ser vista como recurso adicional ao culto congregacional.
Por último, precisamos todos lembrar que
culto não é uma técnica. É a obra do Espírito. Nossa tarefa como líderes de
culto é a de criar uma situação em que Palavra e Sacramento possam ser
poderosamente oferecidos e recebidos pelo povo de Deus. A oração é a primeira
exigência ao se começar a trabalhar em mudanças na liturgia. Todos precisamos
ser lembrados que isto é obra de Deus e não nossa.
São Leopoldo, 27/01/1998
Reformulado e ampliado em: 07/04/1998
Rev. Oscar Lehenbauer
Rev. Ely Prieto
[1] Livro de Concórdia, CA VII, p.66.3-4.
[2] Conferir os Estatutos e Regimento da IELB, Art. 100.III, p.61, 1996.
[4] Id. Ibid., pp.137 e 161.
[5] Sabe-se no
entanto, através do Didaquê, que a igreja da época adotava o costume de, durante
o culto, os que estivessem em falta se levantavam e confessavam perante a
igreja as faltas cometidas. Era uma confissão pública, espontânea e em voz
audível. O Didaquê porém desconhece qualquer prática de absolvição por parte de
um ministro. José G. SALVADOR “O Didaquê”.
São Paulo, Departamento de Editoração da Imprensa Metodista, 1980., pp.63 e 64.
(Cf. Didaquê XIV.1 e IV.14). No período da Reforma, enquanto Lutero se
preocupou em redigir uma “Breve Ordem de Confissão perante o Sacerdote para o
Homem Comum” (1529) e “Como se Deveria Ensinar as Pessoas Simples a
Confessar-se” (1531), claramente enfatizando não a confissão, e sim, a
absolvição; os outros reformadores se contentaram em acrescentar orações
penitenciais aos seus cultos dominicais públicos. James F. WHITE, op. cit., p. 207.
[6] Luther D. REED, op.
cit., p.262.
[7] Aqui se estava
pensando na Série Trienal que foi usada até 2008.
[8] Segundo WHITE,
um dos mais úteis resultados da era pós-Vaticano II foi o lecionário ecumênico.
Iniciado após Vaticano II pela Igreja Católica Romana, o trabalho de vários
anos feito por uma equipe de tempo integral e 800 consultores - protestantes,
católicos e judeus - levou-o à sua forma atual. Espiscopais, Luteranos e
Presbiterianos desenvolveram suas próprias versões a partir do lecionário
original., op. cit. p.61. Em 1980 a Igreja Evangélica Luterana do Brasil -
IELB, em Convenção Nacional, adotou a versão da LCMS (Cf. Preciso Falar Vol. VI,
1986, p.IV).
[9] A Idade Média
(no Ocidente) também acrescentou o Credo Niceno imediatamente após o sermão.
Isso parece ter acontecido em oposição ao arianismo (que negava a divindade de
Cristo) e por esquecimento da natureza proclamatória da oração eucarística.
Essa prática provavelmente se originou na Espanha, promovida por Carlos Magno,
sendo adotada em Roma somente um pouco antes do séc 11. No Oriente foi adotada
no séc. 6 como parte da Eucaristia. James F.
WHITE, op. cit., p.117.
[10] Nelson KIRST
observa que: ”os reformadores tomaram medidas bastante radicais, amputando
partes essenciais do culto cristão dominical, porque reagiam ao que
consideravam desvios da Igreja Ocidental da Idade Média. No entanto, eles
desconheciam a liturgia dos primeiros séculos. Sabemos hoje que ignoravam
muitos documentos relevantes daqueles tempos primordiais (como, por ex., o
Didaquê), op. cit., p.139. James F. WHITE acrescenta que: “a redescoberta da
centralidade da oração eucarística como a suprema declaração de fé da igreja
estimulou a revisão de orações existentes e a composição de novos exemplos. Os
luteranos americanos a recuperaram em 1958”, op. cit., p.190.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente... Compartilhe...