ESTUDO 7 - OS PARTICIPANTES
DO CULTO
Introdução
“O Culto é o lugar e o momento do
encontro entre Deus e o seu povo” (Allmen). Sendo assim, os oficiantes do culto
(os que celebram ou dirigem o culto) são Deus e os fiéis. Mas desse encontro
participam ainda os anjos que se associam ao louvor e à glorificação do Senhor.
Deus.
“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles”(Mt 18.20), promete Jesus. Deus com sua presença impede que o culto seja
uma simples ilusão; com seu amor impede que o culto de torne em simples gozo
espiritual e com sua glória nos liberta da cegueira espiritual. “Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo, é, por conseguinte, ao mesmo tempo o sujeito e o objeto
do culto cristão, aquele que, no culto, serve e, por meio do mesmo culto é
servido; o que ordena e recebe a celebração do culto; o que fala e escuta;
aquele a quem imploramos e que concede o que pedimos” (Allmenn).
Os
fiéis. Os fiéis, que têm o direito e o dever de celebrarem o culto, são
batizados. É claro que os não batizados podem e devem ouvir a palavra de Deus e
justamente estes é que a necessitam de uma maneira particular. Mas, o direito a
comungar no corpo e sangue de Cristo, está reservado estritamente aos batizados.
Também o Novo Testamento nos mostra que, para fazer parte da igreja - e assim
poder celebrar o culto - é necessário crer em Jesus Cristo e ter sido batizado
em seu nome.
Vale aqui mencionar a pessoa do
pastor no ofício como representante e enviado do Senhor. O que ele faz, fá-lo
em nome de seu mestre Jesus e com a autoridade que deste provém.
Os
anjos. No prefácio da Santa Ceia, o ministro entoa entre outras palavras:
“Portanto com anjos e arcanjos e com toda companhia celeste louvamos e
magnificamos o teu glorioso nome...” Temos diversas passagens na Bíblia,
especialmente no Apocalipse, que falam que os anjos louvam e adoram a Deus. Não
estamos sozinhos em nosso louvor a Deus. Também no céu existe louvor; e bem que
almejamos apressar o dia em que nos pudermos juntar aos anjos no céu no imenso
louvor ao Deus Todo-Poderoso. Os anjos são enviados ao mundo por Deus como
mensageiros, a fim de vigiarem a igreja contra os ataques de Satanás. E neste
sentido eles também estão conosco, sendo co-participantes em nosso culto
cristão, nos vigiando e defendendo para desempenharmos com toda a intrepidez a
tarefa de cristãos remidos e salvos. (Rev. Raul Blum - ML Janeiro de 1977).
Privilégios e
responsabilidades do sacerdócio geral
De acordo com o Novo Testamento (Ap
1.5,6; I Pe 1.18,19; 2.4,5,9) o sacerdócio não é prerrogativa de uma ordem
particular de homens, mas pertence igualmente a todos os cristãos, desde o
batismo, estando divinamente investidos de uma série de privilégios e
responsabilidades corporativas.
David Chytraeus (1531-1600), enumera
seis atividades do sacerdócio cristão, esperadas de todos os cristãos, leigos
ou não:
1) oferecer sacrifícios a Deus (Rm 12.1; I Pe
2.5; Hb 13.15,16);
2) orar e
interceder por si e pelos outros (Ef 3.12; Lc 11.9,10,13; 1Tm 2.1,1; Hb 4.16);
3) pregar e propagar o evangelho (Cl 3.16; I
Pe 2.9; I Co 11.26);
4) examinar todas as doutrinas e provar os
espíritos, aprovar doutrina correta, reconhecer e rejeitar falsos dogmas e seus
propagadores (1Jo 4.1; 1Ts 5.20,21);
5) reter e perdoar pecados (Ofício das
Chaves, cf. Mt 18.15-18);
6) o privilégio de receber e administrar os
sacramentos do Batismo e da Santa Ceia. Esse privilégio, se aplica a todos os
membros da igreja, e não apenas a sacerdotes que foram ungidos e receberam a
tonsura.
“... em casos de necessidade, até
mesmo mulheres podem batizar, administrar a vivificadora palavra de Deus, pela
qual o homem é regenerado e libertado do pecado, da morte e poder do diabo. E,
quanto à Santa Ceia, Cristo diz a todos os cristãos: “Fazei isto em memória de
mim” (CHYTRAEUS, D., On sacrifice: A Reformator Treatise in Biblical Theology,
CPH, St. Louis, 1962, p.97, citado por V. Scholz, in: Lar Cristão, 1989, pág.
39).
Considerações: Será que com isso o
ministério pastoral se torna supérfluo? - Será esse um temor que conduz a um
clericalismo fechado no culto e demais áreas da vida congregacional?
- Não será a passividade e inépcia
de nossos congregados em exercerem seu sacerdócio proclamador no mundo, uma
conseqüência da passividade deles no exercício do sacerdócio no culto
congregacional?
- E qual a causa dessa passividade?
(Temor do pastor?, falta de confiança na capacidade dos congregados?, falta de
oportunidade e treinamento dos congregados?).
- Sendo o culto congregacional o
grande agape com Cristo e os irmãos, que nos prepara, motiva e impulsiona ao
culto diário no mundo, não seria sensato que já no culto, exercitássemos e
desempenhássemos nossa ação sacerdotal?
Afinal, de acordo com o prof. Dr. V.
Scholz (in: Lar Cristão, 1989, pág. 40), é “... no culto, no batismo, (que) os
sacerdotes são “ordenados”. O Culto é o local onde muitas das funções são
desempenhadas: é quando se ora, se prega, são perdoados, os sacramentos são
administrados...” “... o culto é algo participativo e não um “show” de um artista
só... Seria escandaloso demais sugerir que de vez em quando um leigo disposto,
apto e bem preparado pudesse fazer o sermão? (além de fazer leituras bíblicas,
orar e distribuir os elementos da Santa Ceia?).
O ministério
pastoral
“O ministério da pregação não
consiste num estado especial, mais santo, formando contraste com o cristianismo
comum, como o sacerdócio levítico, mas num ofício de serviço”.
“O ministério da pregação é o ofício
supremo na igreja do qual decorrem todos os demais ofícios” (WALTER, CFW.,
Church and Ministry, CPH, St. Louis, 1987, Teses 4 e 8). - Junto com o ofício
da palavra são conferidos o poder para batizar, abençoar, absolver ou reter
pecados, ministrar a Ceia do Senhor, orar e julgar.
O ministério pastoral foi instituído
por Deus para prover que a palavra divina e os santos sacramentos sejam
administrados publicamente, em nome e para a congregação cristã, com ordem e
decência. Este ministério tem caráter funcional, foi instituído em função da
congregação dos sacerdotes, com vistas ao preparo destes sacerdotes para
o exercício de suas funções ( e não para tomar o lugar dos sacerdotes ou para
eles se verem livres, dispensados de suas funções) (Ef 4.11,12).
O ofício pastoral, portanto, foi
instituído por Deus, a fim de equipar o batalhão de cristãos de tal maneira
que estes possam cumprir suas funções sacerdotais no culto(para sua própria
edificação)e no mundo.(Zimmer, R. Dr., in: Rv. Vox Concordiana, no.1, 1988,
p.10).
A igreja tem o poder e o direito de
escolher um ou alguns dentre os sacerdotes para exercer o ministério, que nele
devem servir e oferecer a Palavra, o Batismo, a Ceia do Senhor, o perdão. E só
através do chamado da igreja (comunidade cristã) alguém pode ocupar esse cargo.
E esta tem o direito de não admitir que no ministério da pregação se intrometa
um estranho(alguém por ela não chamado), ou que um leigo, sem autorização,
se atreva a pregar na sua comunidade.
Relação entre
Sacerdócio Geral e Ministério
(Cf. Lutero, apud. BOUMAN, HJA., A
doutrina do Ministério segundo Lutero e as Confissões, p.12-14)
Como sacerdote, cada cristão tem,
certamente, a competência de fazer tudo o que se relaciona com a Palavra de
Deus e, em caso de necessidade, tem também o direito de fazê-lo, mas no
meio de uma congregação cristã, ele não possui, sem mais nem menos, a vocação
para exercer o sacerdócio publicamente, até que para isso seja chamado para
exercer o cargo em lugar de todos nós. ...
“O ofício da Palavra de Deus
pertence a todos os cristãos em comum... o ofício(de ministrar a Ceia do Senhor)
é igualmente comum a todos os cristãos, assim como o sacerdócio.... nós todos,
quantos formos cristãos possuímos o ofício das chaves em comum. Isso, porém,
exige o direito da Comunidade que, um, ou quantos lhe aprouver, sejam
eleitos e empossados para em lugar e nome de todos aqueles que têm o mesmo
direito, exercerem publicamente esses cargos”.
O ofício do santo ministério está em
harmonia com o sacerdócio real dos crentes, pois, de um lado, os ministros da
Palavra chamados, procedem do sacerdócio(1 Tm 3.27) e, de outro lado,
administram publicamente, isto, em nome dos crentes que o chamaram, realizam as
funções ministeriais de guiar, ensinar, alimentar e equipar, que lhes foram
confiadas pelo corpo de sacerdotes, em nome de Cristo. Não se trata de
transferir os direitos do sacerdócio real à pessoa do ministro da Palavra, como
se a tarefa da pregação do Evangelho, dada por Deus à igreja, fosse repassada,
por meio do chamado, à pessoa do pastor.
A Santa Ceia Administrada por Leigos
OS REFORMADORES declararam que a
verdadeira natureza da Palavra de Deus(mensagem a ser proclamada), e os
sacramentos(atos a serem efetuados), demandam pregadores, mestres, ministrantes
devidamente chamados e ordenados.
Isto, com respeito a Santa Ceia, significa
que, na teoria um leigo poderia administrar o sacramento sem de modo algum
diminuir sua validade ou eficácia. Na prática, porém, isto era excepcional. Por
causa da boa ordem os leigos administravam apenas quando ministros formalmente
ordenados não estavam disponíveis. Em tal situação de emergência, quem
administrava a Santa Ceia, era “chamado a fazê-lo através do consentimento do
povo que participava, e isso evidenciava a posição protestante de que o ministério
é o exercício de uma função que pertence a igreja e não meramente a uma classe
ou ordem especial de homens(TAPPERT, T.G., The Lord’s Supper, p.38).
Mais recentemente, nossa igreja, nos
EE.UU, na obra “The Pastor at Work”,(p173), considera que em situações
extremas, em tempo de guerra, epidemias, perseguições, ou quando, por longo
período de tempo não se pode ter pastor, então os cristãos presentes podem
indicar um de seus pares para administrar o Sacramento.
Conclusão
O culto cristão é o sacerdócio geral
em ação. Não é assim que o pastor é o sujeito do culto e os leigos são o
elemento passivo. É preciso que a congregação crie oportunidades para esta ação
do sacerdócio e organize estes serviços em seu meio.
Tendo a Congregação como objetivo
primordial e último a divulgação ou proclamação pública de todos os desígnios
de Deus, com o fim de edificar espiritualmente os santos para o serviço de
Deus, e para reconduzir a Deus, em Cristo, os que vivem na incredulidade e
perdição, e tendo ela autoridade e poder para eleger(chamar) ministros para dar
cumprimento desta missão, achamos que é injustificável, perante o Senhor, que
passe uma semana sem o culto público(com Palavra e Ceia do Senhor), por falta,
ausência ou impossibilidade do pastor.
E, considerando ainda que, o valor e
eficácia da Santa Ceia não depende em si da formação teológica, ou sucessão
apostólica, do ministrante, achamos que a congregação tem o direito e dever de
eleger, providenciar instrução adequada, ordenar e instalar, ministros auxiliares,
para realizar os cultos (com Palavra e Ceia do Senhor), regularmente quando da
vacância de pastores, ou por ocasião de viagens prolongadas, férias,
enfermidade, ou qualquer outro impedimento do pastor titular.
Desta forma, podemos evitar os
improvisados ministros, os improvisados “cultos de leitura”, e o sentimento de
impotência e frustração dos sacerdotes reais que ficam sem ação e inúteis,
quando poderiam estar dinamicamente oficiando o culto a seu Deus e Senhor”(
Rev. João Carlos Tomm).
Pastor e Leigos Juntos no
Ofício do Culto Público Corporativo
Cada um dos cultos é um
acontecimento da maior importância. Para alguns de seus participantes poderá
ser o primeiro e único contato com a Igreja Luterana e seus tesouros; para
outros, poderá ser o último contato, pois poderão morrer no intervalo de um ao
outro culto.
Por isso cada culto precisa ser o
melhor possível quanto à preparação, envolvimento, conteúdo, beleza e
dinamismo. Para tanto muitos dons são necessários. Fazer depender todo o culto
dos poucos dons de um homem só (pastor) é empobrecê-lo.
É perfeitamente viável pastor e
leigos trabalharem lado a lado no ofício do culto, para seu enriquecimento e
dinamismo, sem ferir a boa ordem e decência estabelecidas pela Escritura e
Confissões, mediante a formação permanente de uma COMISSÃO DE CULTO,
possibilitando a realização de cultos semanais(com Pregação da Palavra e
Sacramentos) em todas as congregações com ou sem a presença de pastor.
Sugestão
de Procedimentos para Formação de Comissão de Culto
I.
Instrução
da congregação com respeito ao Culto - sua necessidade, importância,
centralidade da Santa Ceia, sacerdócio geral e ministerial, diversidade de
dons.
II.
Autorização
da Assembléia Geral de Membros para a formação de Comissão de Culto, com o propósito
de treinar leigos(homens e mulheres), sob a orientação, responsabilidade e
supervisão do pastor, para servirem como oficiantes auxiliares e substitutos no
ofício do culto(Palavra e Sacramentos).
III.
Escolha
de candidatos - Testes vocacionais, voluntários ou convidados pelo pastor ou
diretoria.
IV.
Qualificação
mínima dos candidatos: 1. 1 Tm 3.8-13. 2. a)Freqüência assídua aos cultos; b)
participação assídua na Santa Ceia; c) participação ativa nos estudos bíblicos;
d) ofertante generoso e pontual; e. participação assídua nas Assembléias.
V.
Aprovação
dos candidatos pela Assembléia Geral de Membros da Congregação.
VI.
Período
preparatório de estudo e treinamento: A. Estudo: Liturgias(Culto
Principal I e II, Ordens(Matinas e Vésperas); Ano Eclesiástico; Doutrina(Sumário
da Doutrina Cristã e Livro de Concórdia). B. Oficinas: 1. Aprender a
escrever: Confissão de pecados, coletas, orações, alocuções(preparação para
confissão de pecados e participação Santa Ceia) e mensagens. 2. Ensaiar o canto
da liturgia, leituras, distribuição Ceia, processional de entrada e saída, gestos
e posturas. 3. Programar cultos especiais(grupos menores) para treinamento.
VII.
Rito
de instalação: Consentimento da Congregação para auxiliar e substituir pastor
no ofício do culto.
VIII.
Adotar
vestes litúrgicas: Estola (somente usada pelo pastor ordenado) diferencia
pastor ordenado dos demais oficiantes auxiliares.
IX.
Escalas
periódicas para determinar a tarefa de cada integrante no culto com
antecedência (três meses) para possibilitar preparo adequado.
X.
Revisão
teológica: Pastor recebe por escrito, com antecedência(véspera), confissão de
pecados, orações, alocuções e mensagens para eventuais correções.
XI.
São
liberados da revisão aqueles que demonstrarem por determinado período
capacidade e firmeza doutrinária.
XII.
Realizar
sempre ensaios na véspera dos cultos com todos os oficiantes.
XIII.
Integrar,
periodicamente, novos membros na Comissão.
XIV.
Avaliação
periódica do desempenho de cada integrante pelo pastor e diretoria ou conselho
eleito pela Assembléia.
XV.
Avaliação
pela Assembléia de Membros da atuação da Comissão.
Testemunho:
“Muitas vezes desejava participar
mais diretamente do culto, como por exemplo dirigir a oração geral em nome de
toda a congregação. A princípio imaginava que isto seria impossível. Mas, ao
ser transferido para a Congregação Cristo de Santa Maria, RS, recebi diversas
instruções ministradas pelo pastor e, depois, devidamente autorizado pela
congregação em Assembléia Geral, foi-me concedida a oportunidade de fazer parte
da Comissão de Culto. Na primeira oportunidade dediquei várias horas por dia,
durante uma semana inteira, na elaboração da oração geral, refletindo sobre o
tema do culto, agradecimentos e súplicas a fazer. Graças ao amor de Deus, às
instruções do pastor, grandes bênçãos ocorreram”(Rubem Saul - militar -
Mensageiro Luterano - Abril-93).
A
PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NO CULTO
“Culto é o que cristãos fazem quando
se reúnem ao redor da palavra e dos santos sacramentos... é um fazer da fé”.
A igreja é o corpo de Cristo que
inclui todos os batizados. A igreja local é a igreja de Cristo num lugar determinado
onde cristãos se reúnem para evangelizar, educar e crescer. Na igreja local há
cristãos grandes e pequenos, novos e velhos que se reúnem para se encorajarem,
crescerem na comunhão e serem orientados e fortalecidos pela palavra de Cristo.
Tudo o que a igreja faz reforça sua corporatividade (congregação - ela se reúne
para agir).
Crianças por virtude do batismo
foram incorporadas nessa comunidade cristã. Elas pertencem ao grupo e, portanto,
é seu direito e dever não só serem espectadoras mas, como PARTICIPANTES ATIVOS,
que se sintam BEM-VINDOS. Culto é a primeira resposta da fé e quando crianças
não participam dele a igreja se encontra fragmentada e fraturada! Por outro
lado as tentativas até aqui, de envolver crianças - escola dominical durante o
culto - têm sido:
- sermões para crianças no culto
- histórias com material concreto e
visual
- tirar as crianças antes do sermão
- programar cultos especiais para
crianças
- fazer materiais de colorir para
ocupá-las durante o culto
- ensaiar cantos e jograis para
crianças e jovens “entreterem” adultos...
Ainda que visassem tornar o culto
mais significativo, no processo podem ter ensinado às crianças que elas não tem
verdadeiramente lugar no culto corporativo. Em algum lugar e de alguma forma
isto apenas mostrou que tais coisas não são consistentes com a teologia e nem
com a nossa prática em torno do batismo e o lugar da criança no culto público.
Conseqüentemente, por causa da lição mais profunda que nossas crianças estão
aprendendo disso, podemos afirmar que a nossa falta de criatividade no
envolvimento da criança no culto trouxe prejuízos educacionais e
formativos”(Mensageiro Luterano - Julho 84 - Rev. Oscar Lehenbauer).
Será que só a nossa falta de
criatividade no envolvimento da criança no culto trouxe prejuízos?
Não deveríamos, a partir do momento
em que a Santa Ceia foi recolocada no seu devido lugar (centro do culto),
iniciar toda e qualquer discussão em torno da participação ou não das crianças
na parte principal do culto?
Como subsídio para o debate segue a
conclusão da monografia do Rev. Gilberto Silva sob o título “A Prática de
Participação na Santa Ceia antes do Rito de Confirmação”:
“A
partir da pesquisa feita, podemos concluir que (1) era prática generalizada na
Igreja Primitiva a admissão de crianças à Eucaristia, em estreita ligação com o
batismo, vistos os dois como necessários para as crianças. (2) A Igreja medieval
manteve este costume, até um certo período, abandonando-o posteriormente por
causa de sua teologia escolástica. A igreja oriental manteve a prática e a
conserva até aos dias de hoje. (3) Os reformadores reinstalaram a distribuição
completa do sacramento, sob as duas espécies, e incentivaram a instrução do
povo sobre o mesmo, devido à ignorância que grassava na época com relação às
doutrinas da igreja. Não se encontra, entretanto, em Lutero, qualquer
condenação à prática da igreja primitiva de distribuir o sacramento também às
crianças. Muito pelo contrário, ele cita o fato - especialmente a prática de
Cipriano - para evocar a necessidade da distribuição correta do sacramento (sob
as duas espécies).
As teses de Lothar Hoch,
apresentadas resumidamente, apesar de terem sido escritas no ambiente eclesial
da IECLB, refletem também a realidade do Sacramento do Altar em nossa Igreja
(IELB). Vemos uma extrema racionalização do sacramento, que perde o seu sentido
primeiro de veículo da graça perdoadora e de Eucaristia (ação de graças e,
portanto, celebração) para tornar-se muito mais uma espécie de prêmio para os
bons cristãos. Quer dizer, somente podem participar aqueles que são fortes na
fé. Sem dúvida, as duas colocações de peso são quanto (1) à incongruência em se
batizar crianças e se lhes negar a participação na Ceia; (2) e quanto à prática
distorcida que admite que a criança entenda o Evangelho à sua maneira (e aqui
não podemos duvidar do Espírito Santo) mas não admite que a criança também
possa entender o sacramento à sua maneira.
De alegre festa de perdão, a Santa
Ceia tem sido encarada como um momento fúnebre, onde se enfatiza o pecado
pessoal e não a graça de Deus, que justamente perdoa este pecado. No fundo, ela
está mais centrada no ser humano que em Deus. Esta é uma visão totalmente falsa
do sacramento. Crianças também são pecadoras desde o seu nascimento -
exatamente por isto são batizadas! Logo, nada mais justo do que lhes oferecer
também o perdão por meio do Sacramento do Altar. Elas não participarão
indignamente, pois, se crermos, diferentemente dos calvinistas, que o batismo
não somente simboliza a entrada na comunhão dos santos, mas efetivamente cria a
fé necessária para se participar desta comunhão; as crianças batizadas terão a
única dignidade necessária para participar: A FÉ.
Psicopedagogicamente comprova-se que
a criança pode entender certos conceitos à sua maneira, especialmente se estes
conceitos lhe forem transmitidos de maneira concreta. Piaget comprovou que a
criança até mais ou menos os 12 anos de idade pensa somente de maneira
concreta. Deste modo, valendo-se de uma didática adequada à idade, pode-se
transmitir à criança as explicações necessárias a respeito do sacramento, de
modo que ela possa: (1) perceber que o corpo E sangue do Senhor são recebidos
na Ceia (discernir); (2) compreender que é pecadora diante de Deus e que
precisa arrepender-se de seus pecados - a criança certamente não perceberá o conceito
abstrato do pecado, mas as suas conseqüências concretas estão ao seu alcance;
(3) desejar o perdão, revelado concretamente na Ceia e (4) dispor-se a melhorar
a sua vida. Tudo isto precisa ser visto e encarado dentro do ponto de vista, da
“Weltanschaung” da criança, e não a partir de nossas racionalizações e
abstrações adultas.
Se permitirmos que as crianças
participem do sacramento do altar, estamos também permitindo que elas tomem
parte nas bênçãos oferecidas pelo mesmo, a saber, todos os frutos produzidos
pela obra de Jesus na cruz: a união mística com Cristo; a unidade da Igreja
(verdadeira união, não somente de adultos); perdão dos pecados; vida eterna;
fortalecimento da fé pessoal; crescimento no amor de Deus; crescimento no amor
ao próximo e alegria. Já que é difícil atingir a criança por meio da palavra
falada (pregação), temos mais um motivo para administrar-lhe a Ceia pois é mais
um meio de proporcionar-lhe crescimento na fé e desfrute de todas as bênçãos.
Entretanto, em vista de ser prática
histórica na IELB a vinculação da primeira participação na Ceia ao rito
confirmatório, é necessário que qualquer mudança seja amplamente debatida nas
congregações, para que porventura ninguém se escandalize. Parece ser bastante
equilibrada a posição adotada pelo Sínodo de Missouri: deixar a decisão por
conta das congregações, dentro de sua liberdade cristã, apenas recomendando que
se vise sempre a edificação e o crescimento na fé e vida cristãs”.
Obs.: Na Congregação Cristo em Santa
Maria as crianças, com o consentimento dos pais e/ou padrinhos, participam da
Santa Ceia durante o ensino confirmatório. Pais também participam de aulas e palestras
que tratam da Santa Ceia.
OS VISITANTES NO
CULTO
Resumo de carta de um visitante no
culto remetida à Congregação Cristo de Santa Maria:
“À
IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL SANTA MARIA - RS
EM TESTEMUNHO DA FÉ, e a constatação de um trabalho
magnífico realizado pela IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL - CONGREGAÇÃO
CRISTO em Santa Maria, neste Estado.
O EFEITO TRANSFORMADOR de vosso trabalho, atingiu o
coração de um ser humano frágil, de pouca crença na palavra de DEUS, e com
todos os defeitos possíveis e imagináveis aos olhos do SALVADOR, porém, ao ser
convidado a participar do ato religioso pela família H... naquele domingo
maravilhoso....A LUZ PENETROU EM MINHA ALMA, e esta luminosidade teve um efeito
fantástico em minha vida. Quero transmitir... que a partir do dia em que entrei
em vosso templo sagrado, a minha vida modificou-se, jamais serei o mesmo,
prometendo-lhes de coração que divulgarei pelo resto dos meus dias o trabalho
que assisti naquele domingo. ... Quero transmitir um agradecimento especial ao
vosso pastor e pessoas que participaram daquele ato. Agradecer ao R... por ter
me convidado a participar de tão solene ato.... Todos estes fatos, e
acontecimentos especiais, tem a luminosidade daquele CULTO. Jamais poderia
dirigir-me assim a vocês... se não me fosse dada esta abertura fantástica para
a VIDA. Ao pastor devo confessar, trazendo o meu testemunho pessoal, de que o
seu trabalho materializou-se através da presença de DEUS em minha vida, parte
de vossa missão cumpriu-se naquele instante e DEUS fez-se LUZ e esta luz está
numa cidade distante que é Osório, e agora começa a outra parte da missão que
vós recebeis, que é manter um canal aberto a todo aquele que queira adentrar em
vosso templo, independentemente do CREDO ou RELIGIÃO. Agradeço pelo presente, o
mais útil da minha vida, CASTELO FORTE ano de 1997 - pelo qual tenho orientado
meus procedimentos diários e o lido com respeito e atenção e sempre que o leio,
lembro-me do ato em que participamos em vossa casa. Ao R... devo dizer que o
que vi, ouvi e assisti em Santa Maria, foram os atos e fatos mais próximos a
Deus de toda a minha vida. A religiosidade, o respeito ao CULTO, a convicção de
seus atos, a segurança...deram-me a certeza absoluta que precisamos
urgentemente da RELIGIÃO que é pregada por vossa congregação... Em dias tão
conturbados, violentos e contraditórios, precisamos de uma LUZ, uma
orientação... teríamos muito a escrever, e isto eu enfrentei com muita
dificuldade, pela falta de cultura, pelos erros de português que cometo
sistematicamente, porém, achei-me no direito e dever de fazer este agradecimento...
pelo bem que me fizeram”.
Osório, 19 de agosto de 1997. R.K.
Christian A. Schwarz, autor de O
DESENVOLVIMENTO NATURAL DA IGREJA, apresenta oito marcas de qualidade
encontradas em igrejas que crescem sem receitas mirabolantes de crescimento. Uma
dessas marcas o autor denomina de CULTO INSPIRADOR conclui afirmando que “há
cristãos que estão convictos de que o culto voltado essencialmente para o
visitante não cristão seja um princípio de crescimento da igreja. Em nossa
pesquisa constatamos que por trás de um culto evangelístico não existe um
princípio de crescimento de igreja. Podemos direcionar os nossos cultos
totalmente para cristãos, ou totalmente para não cristãos; podemos celebrá-los
de forma litúrgica ou de forma livre, mas tudo isso não é essencial para o
desenvolvimento da igreja. Decisivo é um outro fator: Será que a participação
do culto é uma “experiência inspiradora para o visitante? A conclusão unânime
dos presentes em encontros assim é que o culto é “gostoso”!
A oposição a esta marca de
qualidade, virá de cristãos que entendem que o Culto é, em primeiro lugar, o
cumprimento de um dever cristão. De acordo com esse modelo, as pessoas não vão
ao culto porque esperam ter uma experiência agradável e inspiradora, mas para
fazer um favor ao pastor ou a Deus. Às vezes à esta idéia se acrescenta de que
Deus abençoará a fidelidade de ir ao culto e suportar uma experiência
desagradável. Quem pensa de acordo com esse modelo sempre vai usar de pressão
para motivar os cristãos a participarem do culto. Nas igrejas em que os cultos
são celebrados de forma inspiradora, podemos observar que eles “por si mesmos”
atraem as pessoas.”( p.30,31).
Segundo os idealizadores do
Evangelismo Explosivo, os incrédulos estarão mais preparados para a visita de
apresentação do plano de salvação em Cristo(Evangelho) quando:
a. Tiveram participado de uma igreja
em que os cultos tenham sido significativos.
b. O povo da igreja tenha sido
amigável, receptivo(Notas de Clínica, p.22).
Como tornar o culto
significativo para o visitante
01. Planejar e oficiar o culto
cuidadosamente em equipe, considerando os dons([1]Ensino, administração, oração,
hospitalidade, canto, música,ministério, exortação, sabedoria, conhecimento,
evangelista, pastor...).
02. Zelar pela pontualidade(iniciar
culto e concluí-lo no horário divulgado), boa apresentação dos oficiantes(
higiene, vestes, fisionomia), sonorização adequada ao espaço físico, uso
recursos audiovisuais.
03. Instruir a Congregação para que
todos recebam amigavelmente os visitantes, dispensando-lhes toda atenção.
04. Treinar pessoas e escalá-las para se
aproximarem dos visitantes, se possível sentar com eles para orientá-los quanto
ao uso da ordem de culto, hinos, bíblia.
05. Adotar livro de registro de
presenças para facilitar a identificação de visitantes. Consultá-los se podem
ser apresentados à congregação durante o culto.
06. Consultá-los sobre eventuais
agradecimentos ou súplicas especiais que gostariam ver incluídos na oração
geral.
07. Presenteá-los com literatura da
igreja ao final do culto.
08. Pastor (ou na sua ausência outro
oficiante)cumprimentar todos à saída do culto.
09. Convidá-los para participarem,
após o culto, do cafezinho de congraçamento junto com a congregação.
10. Visitá-los na semana imediatamente
após sua participação no culto ou enviar carta manifestando gratidão e alegria
pela presença, renovando convite para participar novamente.
Os Visitantes e
a Santa Ceia
“Convidamos agora a participarem da Santa
Ceia os membros da IELB que foram confirmados e se inscreveram previamente com
o pastor. Lembro: Somente membros da Igreja Luterana, membros desta congregação
e confirmados, poderão participar da Santa Ceia. Membros de outras congregações
da IELB, poderão participar somente se trouxeram autorização de seus
respectivos pastores”.
Será que colocações como estas são uma
“experiência gostosa” para os visitantes em nossos cultos?
Deixaríamos de praticar a comunhão
fechada se, por exemplo, o convite à Ceia fosse nestes termos: “Estão
convidados a participar da Santa Ceia todos os batizados que se arrependem de
seus pecados e crêem que Jesus Cristo morreu na cruz e ressuscitou dentre os
mortos para pagar a pena por todos os seus pecados, e, agora, está presente com
seu corpo e sangue juntamente com o pão e o vinho para fortalecimento da fé.
Estes estão convidados a receberem as bênçãos
prometidas nesta Ceia, a saber, remissão dos pecados, vida e salvação” ?
Rev.
Elmar Regauer
Santa Maria - RS
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