ESTUDO 3 – A PALAVRA NO CULTO
Introdução
Podemos imaginar um culto
na época de Jesus?
O que fazia parte de um
culto?
Havia as grandes
celebrações no templo de Jerusalém com os sacrifícios de animais e outros
cerimoniais. Esses sacrifícios não são mais necessários, pois Jesus se
sacrificou por nós uma vez por todas!
Mas o que acontecia nas
reuniões simples nas sinagogas? Temos a descrição de uma parte deste culto em
Lc 4.16-21 (ler e comentar).
O ponto alto dessas reuniões era a
leitura da palavra de Deus. Naquela época eles só tinham o Antigo Testamento,
que era lido, explicado e aplicado à vida dos participantes.
A centralidade da Palavra continuou
nas reuniões dos primeiros cristãos, e em torno da leitura da Palavra e da
celebração da Santa Ceia se moldou a liturgia da igreja.
À leitura do Antigo Testamento foram
acrescentadas a leitura das cartas dos apóstolos e a leitura do Evangelho.
"Entre os cristãos, no culto,
tudo deve acontecer por causa da Palavra e dos Sacramentos" escreve o Dr.
Martinho Lutero ("Pelo Evangelho de Cristo", p g. 230).[1]
1 - O ANO ECLESIÁSTICO
Somos uma igreja de forte
tradição litúrgica. Na Reforma, Lutero voltou à verdade bíblica naqueles pontos
em que havia distanciamento dela. Mas o que pôde ser conservado, dentro da
sadia tradição da igreja, e para a boa ordem do culto, foi conservado. Assim, o
Ano Eclesiástico foi preservado com os seus ciclos festivos, seus domingos e
dias santos[2],
expurgadas aquelas datas que conflitavam com o Evangelho.
Temos a parte festiva do
Ano Eclesiástico, que inicia no Advento e vai até Pentecostes; e temos a parte
não-festiva, que abrange a outra metade do calendário. Todo o Ano Eclesiástico
foi elaborado a partir da Páscoa, a festa maior da cristandade, sempre
centralizando as datas na vida e obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. É bom
lembrar que a igreja do Antigo Testamento também tinha o seu Ano Eclesiástico,
com suas festas fixas e móveis, estabelecido por Deus após a saída do povo do
Egito, e que lembrava os grandes feitos salvíficos de Deus em favor do seu povo
a partir da Páscoa judaica.
Cf. o gráfico[3]
do Ano da Igreja:
PARA
REFLEXÃO:
a) Qual seria a reação de uma congregação luterana
se no dia 25/12 não fosse falado sobre o nascimento de Jesus, mas fosse
celebrado um culto comum?
b) Por que, então, não
celebrar e enfatizar as festas menores e as leituras próprias de cada domingo?
c) Qual a festa mais
festejada em sua congregação?
-
Aniversário da congregação:
- Natal:
- Dia das Crianças:
- Páscoa:
- outra:
Sugestões:
2 - AS PERÍCOPES
São trechos "cortados",
selecionados da Escritura. Já na igreja judaica havia o costume de usar textos
fixos selecionados para sábados especiais.
Paul W. Nesper, em sua obra "Biblical
Texts", relaciona 14 séries de perícopes.[4]
Entre nós, as mais conhecidas e usadas são a Tradicional, a Eisenach, e, mais
recentemente, a Série Trienal.
As perícopes são
organizadas de forma a apresentar durante o ano todo o desígnio de Deus para a
nossa salvação. Seguindo os textos das perícopes, o pregador evita
subjetivismos e repetições de assuntos, o que freqüentemente acontece na
escolha de textos avulsos. Ao mesmo tempo, é um desafio ao pregador se
defrontar com um texto pré‚determinado a cada semana, estudá-lo a fundo, e
trazer as suas verdades para a realidade de hoje, tanto para seu próprio
proveito como para os seus ouvintes.
A consulta às leituras
programadas para cada domingo vale também para os demais ofícios da igreja:
sepultamentos, casamentos, alocuções, estudos bíblicos, visitas pastorais e a
enfermos, departamentos, etc. Ao procurar um texto bíblico para estas e outras
ocasiões, é bom tentar primeiro as leituras do domingo mais próximo. Numa
grande maioria das vezes encontraremos bons subsídios, boas idéias, bons
textos, que podem ser relacionados à ocasião ou época específica, encaixando o
momento dentro do Calendário Eclesiástico, e não como uma ocasião avulsa.
No entanto, isto não
significa que o pregador deve ser escravo das perícopes. Caso haja uma situação
específica, uma necessidade especial, o pregador tem a liberdade de escolher
outro texto, seja para o sermão dominical ou para outros momentos.[5]
Vamos nos deter um pouco na Série Trienal:
Sua origem está na
"Ordo Lectionum Missae", de 1969, da Igreja Católica Romana. Nos
Estados Unidos houve um movimento muito forte para unificar em todas as igrejas
cristãs as leituras do domingo. Várias igrejas adotaram esta Série Trienal. A
Série adaptada pela Igreja Luterana conserva cerca de 60% da série original. A
IELB adotou esta série em 1982.
Princípios para a
elaboração da Série Tríplice:
1. Procurou-se reter um ano
litúrgico cristocêntrico.
2. Concordou-se em escolher
textos evangélicos, centrados na boa nova.
3. Levou-se em conta o
aspecto querigmático (este texto pode ser pregado?).
4. Procurou-se refletir
"todo o desígnio de Deus".
5. Perguntou-se até que
ponto o texto se adapta à leitura.
6. Deu-se especial atenção
ao inter-relacionamento dos textos.[6]
Aproveitamento dos livros
bíblicos na Série Trienal:
Série A - Mt, 1 Co, 1 Pe, Rm, Fp, 1 Ts.
Série B - Mc, 1 Co, 1 Jo, 2 Co, Ef, Tg, Hb.
Série C - Lc, Gl, Cl, 1 Tm, 2 Tm, Fm, 2 Ts, Ap, 1
Co, Hb.
O Evangelho de João
aparece nas três séries.
Do Antigo Testamento
aparecem trechos substanciais de Is, Jr, Dt, Gn, Êx, 1 e 2 Rs, Ez, Nm, Dn, Pv.[7]
PARA REFLEXÃO:
1. A sua congregação segue
as perícopes?
2. O pastor se utiliza dos
estudos publicados nas revistas "Igreja Luterana" e "Vox Concordiana"
e no "Preciso Falar"?
3. Sugestões:
3. O SERMÃO.
"Es ist kein Ding dass die Leute mehr bei der Kirche
behaldt denn die gute Predigt!"
"Não há nada que
segura tanto as pessoas na igreja como um bom sermão!"[8]
Numa pesquisa a respeito do culto,
88% dos entrevistados enfatizaram a importância e prioridade do sermão!
Mas qual a diferença entre um bom
sermão e um sermão ruim?
Um bom sermão faz distinção entre lei
e Evangelho, proclama Cristo, chama ao arrependimento, e é claro na sua estrutura.
Um mau sermão não
distingue entre lei e Evangelho, não apresenta Cristo, dá falsa segurança sem
chamar ao arrependimento, e é "gelatinoso", não consistente em sua
estrutura e em seu conteúdo.[9]
A primeira parte do nosso culto
(descontando a preparação: Confissão e Absolvição), isto é, o Ofício da
Palavra, tem o seu clímax no sermão. É o Verbo vindo através de um pregador
específico para um povo reunido num lugar específico num momento específico da
história.[10]
Daí a responsabilidade do pregador no
preparo e na apresentação do sermão. É importante que os pastores aproveitem
bem os cursos de aperfeiçoamento oferecidos pelos nossos Seminários. É também
importante que os leigos/diretorias/lideranças comentem com o seu pastor a
respeito dos sermões, fazendo uma crítica construtiva e expressando sua opinião
sobre o alcance e proveito dos sermões. O pastor não pode pregar para as
paredes, sem ouvir o eco da mensagem de Deus proferida por ele!
O método de, após o estudo do texto,
estabelecer: a) um objetivo; b) determinar quais são os empecilhos que impedem
atingir o objetivo (lei); e c) qual o meio dado por Deus para atingir o
objetivo (evangelho), - tem ajudado muitos pregadores a aperfeiçoarem seus
sermões. A leitura comparativa das perícopes do dia tem fornecido muito
subsídio para o desenvolvimento do texto básico do sermão.
O uso de uma pergunta diretiva ajuda
a subdividir o tema de forma clara e objetiva. "Como?" - "
Quando?" - "Por quê?" - "Quem?" - "Onde? - exigem
respostas concatenadas e que se complementam. Este método ajuda a ficarmos numa
linha diretiva, sem nos perdermos em muitos pensamentos. A mente do ouvinte não
tem condições de captar muitas idéias divergentes no curto espaço de uma
pregação. Devemos desenvolver o sermão em torno do tema estabelecido,
perseguindo o objetivo que foi proposto!
Não podemos aqui
apresentar todo um programa homilético. Fica o desafio para que cada
congregação apóie e incentive o seu pastor a se aperfeiçoar cada vez mais na bela
e boa tarefa de preparar e apresentar um sermão, de maneira que Cristo seja
sempre colocado diante dos olhos do ouvinte como seu único Salvador!
PARA REFLEXÃO:
a) Ao preparar e escrever o
sermão, o pastor sempre deve se perguntar: "Onde está Jesus?"
b) O ouvinte, após o sermão,
deve se perguntar: "Ouvi Jesus? Fui consolado? como? "
c) O que a sua congregação
está fazendo para que os sermões sejam cada vez mais cristocêntricos?
d) sugestões:
4.OS SACRAMENTOS:
Os sacramentos foram
incluídos neste bloco de "A Palavra no Culto" porque eles são a
própria PALAVRA VISÍVEL. "Une-se o elemento à Palavra e tem-se o
sacramento"[11],
afirmou St. Agostinho. Os Sacramentos são a proclamação visível do Evangelho do
amor de Deus em Cristo através da água e do pão/vinho.
O Batismo não deveria ser
separado do culto principal; nem pode ser realizado às pressas, como se fosse
um "problema" para manter o horário/duração do culto. Com reverência
e solenidade, envolvendo a congregação toda na Confissão de fé e na lembrança
do novo nascimento de cada congregado, o batismo torna o Evangelho palpável e
visível: Deus perdoando e salvando unicamente por graça, conforme a sua
promessa.
A Santa Ceia, relegada
durante muito tempo apenas a cultos especiais, está reencontrando o seu espaço
no culto dominical, de onde nunca deveria ter saído. Filhos de Deus prestam culto
a Deus em torno da palavra e dos Sacramentos!
Com sabedoria e prudência as
congregações devem analisar possíveis distorções/ superstições/crendices/costumes/abusos/desleixo
relacionados aos Sacramentos, instruindo todo o povo na essência e proveito dos
Sacramentos e na participação com fé e respeito.
PARA REFLEXÃO:
2- A Sta. Ceia é celebrada
em todos os cultos em sua congregação? Por que sim? Por que não?
3- Há abusos/superstições
relacionados à prática dos sacramentos em sua paróquia? Relacione quais: ___________________.
4- A inscrição para a Santa
Ceia e a comunhão fechada é praticada: com rigor? ______________________. com
tolerância? _______________ .
5- Sugestões:
_______________________________________.
5. AS ORAÇÕES:
Deus fala conosco através
da sua Palavra. Nós falamos com Deus através da oração. Está estabelecido o
diálogo entre o Pai e seus filhos.
Como
foi Deus mesmo, através do seu Filho, que nos ensinou a orar, a oração não pode
ser um simples exercício pessoal, desligado da Palavra. A oração é a resposta à
Palavra!
A Coleta, ou Oração do
dia, é uma breve "coletânea" das verdades das leituras do dia.
Apresenta um resumo do tema e uma súplica baseada no que Deus nos diz e revela
naquele dia. Muitas vezes a Coleta nos ajuda a determinar o tema do sermão.
A Oração Geral da Igreja
apresenta as ações de graça e intercessões de toda a comunidade. Também pode
lembrar no seu início a temática do sermão, levando a Deus em oração as preces
específicas relacionadas ao tema do dia.
A nossa Liturgia Luterana
oferece "Coletas" para cada domingo do ano eclesiástico e textos para
a Oração Geral. Nada impede que ela seja substituída; mas não para pior:
orações livres, gaguejadas, improvisadas, sem conteúdo... O recurso de uma
oração responsiva é muito bom.
Recomendamos a leitura
dos vários textos de Lutero sobre a oração; especialmente o "Como se deve
orar, para o Mestre Pedro Barbeiro", publicado no "Pelo Evangelho de
Cristo" pp. 317 e seguintes. Também o livro "Querido Deus" da
Ed. Sinodal, que apresenta uma série de breves orações de Lutero. O Livro
"Palavra e Oração" da Concórdia Ed. oferece excelentes subsídios para
orações alternativas no culto.
PARA REFLEXÃO:
a)
As
"coletas" constantes na Liturgia Luterana são usadas em sua
congregação?
b)
Os
participantes do culto têm oportunidade de incluir suas intercessões pessoais
na oração geral? Como isto é feito?
c)
Sugestões:
______________.
CONCLUSÃO:
Recomendamos a leitura da "Missa
e Ordem do Culto Alemão", escrito por Lutero em 1526, publicado no
"Pelo Evangelho de Cristo". Toda a centralidade da Palavra no culto
está muito bem expressa e fundamentada, com excelentes sugestões práticas para
o culto referente à forma de fazer as leituras bíblicas, à maneira de celebrar
a Sta. Ceia e outros detalhes. Apesar de ser um texto antigo, a atualidade de
suas propostas é marcante. Não precisamos sempre de novo "reinventar a roda"....
. Também o caderno 13 do PEM (Programa de Evangelização e Mordomia da IELB)
fornece excelentes subsídios para uma melhor compreensão da liturgia e sua
celebração.
O que deve prevalecer é
que Cristo seja apresentado de todas as maneiras e formas possíveis. Como
"entre os cristãos, no culto tudo deve acontecer por causa da palavra e
dos Sacramentos"[12],
devemos nos conscientizar cada vez mais do quanto a Palavra está permeada no
culto de ponta a ponta. Mesmo que o sermão em determinado domingo não atinja os
corações (por falta de atenção pessoal ou por inabilidade do pregador), mesmo
assim posso sair consolado da igreja pelas muitas outras formas e oportunidades
que Deus se comunicou comigo através da sua Palavra nas leituras, hinos,
sacramentos, cantos litúrgicos, etc. [13]
"Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de
quem o aprendeste. E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem
tornar-te sábio para a salvação em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda a boa obra." - 2 Tm 3.14-17.
"Pois tudo quanto outrora foi
escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e
consolação das Escrituras, tenhamos esperança. E o Deus da paz vos encha de
todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do
Espírito Santo." - Rm 15.4,13.
BIBLIOGRAFIA:
1.
BOSCH, PAUL. "The sermon as part of the liturgy". In: The Preacher's
Workshop Series, vol. 6. St.
Louis, MO, CPH, 1977.
2. LIVRO DE CONCÓRDIA, Artigos de Esmalcalde
P.Alegre, Concórdia Ed. / Ed.Sinodal, 1098.
3.
Lutero, Martinho. "Pelo Evangelho
de Cristo". P.Alegre, RS, Concórdia Ed / Ed.Sinodal, 1984.
4. POOVEY,W.A.
"Letting the word come alive." in: "The Preacher's Workshop
Series", vol 2. St/.
Louis, MO, 1977.
5.
SCHULZ, RICHARD. "Preaching and the Pericopes." Apostila e anotações
em aula de C.W.Winterle. Curso de Pós-Graduação do Seminário Concórdia,
S.Leopoldo, RS, 1982.
6.
WINTERLE,C.W. "Adorando como Filhos de Deus" - Caderno do PEM, vol 13.
P.Alegre, RS, Concórdia Ed. 1998.
7.
ZIMMER,R.ALLAN e outros." O culto cristão". Trad.: I.Hoppe e
C.Gedrat. P.Alegre, RS, Concórdia Ed., 1988.
8.
ZIMMER, RUDI. In: "Preciso Falar", vol VI, P.Alegre, DEP-IELB, 1986.
Rev.
Carlos Walter Winterle
Porto Alegre, RS
[1] WINTERLE,C.W.
"Adorando como Filhos de Deus" - Caderno do PEM, vol 13. P.Alegre,
RS, Concórdia Ed. 1998, pp.16,17.
[2] Lutero, Martinho. "Pelo Evangelho
de Cristo". P.Alegre, RS, Concórdia Ed/Ed.Sinodal, 1984, p.230.
[3] ZIMMER,R.ALLAN e
outros." O culto cristão". Trad.: I.Hoppe e C.Gedrat. P.Alegre, RS,
Concórdia Ed., 1988, p. 46.
[4] POOVEY,W.A. "Letting the word come alive."
in: "The Preacher's Workshop Series", vol 2. St. Louis, MO, 1977, p.
10.
[5] POOVEY, W.A. Ibid. p. 10.
[6] ZIMMER, RUDI. in: "Preciso Falar", vol VI,
P.Alegre, DEP-IELB, 1986, p.XXXIII.
[7] Ibid, p. XXXIV.
[8] SCHULZ, RICHARD. "Preaching and the Pericopes."
Apostila e anotações em aula de C.W.Winterle. Curso de Pós-Graduação do
Seminário Concórdia, S.Leopoldo, RS, 1982.
[9] Ibid.
[10] BOSCH, PAUL. "The sermon as part of the
liturgy". In: The Preacher's Workshop Series, vol. 6. St. Louis, MO,
CPH, 1977. p. 20,21
[11] LIVRO DE
CONCÓRDIA, Artigos de Esmalcalde P.Alegre, Concórdia Ed./Ed.Sinodal, 1098. P.
333.
[12] Lutero, M. "Pelo Ev. de
Cristo." Ibid. p. 230.
[13] BOSCH, PAUL. Ibid., p. 19.
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