segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Turbulência na alma


O pastor luterano Genivaldo Agner que trabalha em Portugal, após ler meu artigo da semana passada, mandou um e-mail: "Marcos, quinze dias atrás, eu, minha esposa e o nosso filho de cinco meses fizemos o mesmo trajeto do avião que caiu, no mesmo horário. As nossas idas e vindas para o Brasil não serão mais as mesmas. E querendo ou não, quando passarmos por aquela zona de grande turbulência (elas sempre acontecem por ali), lembraremos do voo 447. Um dos comissários de bordo deste voo, brasileiro, conversou conosco e cuidou para que nosso filho pudesse ter o seu berço bem colocado. Coisas que agora nos emocionam".
–Sempre tive medo de avião e não consigo dormir quando viajo. — confessou o presidente Lula nesta semana. Pensando bem, a poltrona do avião é um lugarzinho incômodo que revira coisas que estão lá no bagageiro de nossa vida. Quanta coisa passa pela cabeça nestas horas quando se está lá nas alturas:

–Será que chego ao destino são e salvo? E se morrer, sentirão a minha falta? E as coisas erradas que fiz? Para onde vou depois da morte?"

Aliás, foi assim que no ano passado um pastor confessou ter assassinado a esposa. Apavorado com os balanços do jatinho, o homem começou a chorar e contou tudo aos policiais que o conduziam ao tribunal. Isto aconteceu num voo de Santos à Brasília, e foi a prova para a condenação dele. Não é preciso ser um criminoso, mas são nestes momentos que a consciência de qualquer um de nós acende a luz vermelha e toca o alarme. É a chance de confessar...

No entanto, será que este tipo de turbulência não deveria nos sacudir também na poltrona da nossa casa? Afinal, morre mais gente dentro de casa que dentro de avião. "Ninguém pode evitar a morte, nem deixá-la para outro dia. Nós temos de enfrentar esta batalha, e não há jeito de escapar", avisa a Bíblia em Eclesiastes 8.8. Enfrentar a batalha da morte? Mas de que jeito? Com seguro de vida, testamento, cemitério? Aliás, algumas vítimas do avião francês nem precisarão de túmulos. O que aumenta ainda mais a agonia dos familiares. Li que a localização dos corpos e a confirmação da morte podem ajudar os parentes a superar a perda. É o inevitável enfrentamento dos que permanecem no vale da sombra e da morte. Mas o "dia D" desta batalha é pessoal – igual a uma carteira de identidade. E dependendo das armas, ou a morte morre e a vida vive, ou a morte vive e a vida morre.

O maestro Silvio Barbato, uma das vítimas do vôo 447, só voava com um crucifixo, conforme disse a mãe dele numa homenagem em Porto Alegre. Quando atravessava uma zona de turbulência, apertava-o com tanta força que ficava com marca nas mãos. Creio que para afastar o pavor de qualquer coisa nesta vida turbulenta, melhor mesmo é apertar a própria consciência com a cruz. E só existe um jeito: "Nada pode nos separar do amor de Deus, nem a morte, nem a vida (...) nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor" (Romanos 8.38-39).



Marcos Scmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo-RS

11 de junho de 2009

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