sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Culto Luterano - Absolvição

3. A Absolvição
Novamente encontramos uma variedade de nomes para a Absolvição. Ela é chamada de Confissão, Santa Absolvição, Poder das Chaves, as Chaves, Sacramento da Penitência.[1] Ao usar qualquer dessas designações, as Confissões Luteranas ou Livros Simbólicos, referem-se à confissão e absolvição privada, e não a um grupo de pessoas muitas vezes não identificáveis como no culto público.[2]
Nessa situação privativa, a efetiva confissão dos pecados perde a sua força legalista e a importância que ela tinha no período da pré-Reforma. A confissão pode ser breve, sem necessidade de distinguir pecados veniais e mortais. O penitente deveria confessar aqueles pecados que de forma especial oprimiam a sua consciência. Teologicamente, as Confissões Luteranas, ao enaltecerem os benefícios e a importância da confissão privada, focalizam especialmente a absolvição pronunciada pelo ministro: “eu perdôo os teus pecados...”.[3]
Assim como no Batismo e na Santa Ceia, este é o perdão dos pecados aplicado ao indivíduo, o qual é apropriado pela fé deste indivíduo no perdão dos pecados em Jesus Cristo. Esta é a forma de absolvição que dá especial conforto e consolação às consciências atribuladas pelo pecado. A certeza e o poder desta absolvição direta está baseada no poder das chaves (Mt 16.19; 18.18 e Jo 20.22-23), o poder que Deus exerce por meio de seus ministros da Palavra chamados, ou seja, pelo ministério público.
Várias influências, práticas e teológicas, gradativamente levaram a Confissão e Absolvição privada ao declínio. Derivada de práticas da pré-Reforma (o Confiteor do rito romano e as formas cúlticas de orações confessionais públicas [Offene Schuld] na Alemanha), confissões grupais no culto público tornaram-se comuns. Nestas situações, as formas de “absolvição” eram expressas por meio de orações de perdão, afirmações declaratórias (“eu vos declaro o perdão de todos os vossos pecados, etc.”), e por meio de declarações simples da graça, utilizando passagens genéricas da Escritura que falam do amor salvador de Deus em Cristo pela humanidade em pecado.
As formas de Confissão e Absolvição que se encontram nas Ordens I e II do Hinário Luterano, são adaptações de formas que apareceram em várias ordens do século XVI. Enquanto uma tem suas raízes na Confissão Privada e em situações confessionais envolvendo grupos menores e, portanto, mais direta e individualizada, a outra forma tem a intenção de ser mais geral ou uma Confissão de grupo preparatória para o culto público. Neste caso, seguida por uma declaração simples da graça na qual o pastor se inclui. Não é uma situação de pastor versus penitente, como em situações de confissão privada ou de pequenos grupos. Fica a critério do pastor a decisão pela conveniência de usar uma ou outra.[4]



[1] Livro de Concórdia, Ap XII, p.197.39, 41; XIII p.223.4.
[2] Id. Ibid., Ap XII, p.208.99-103; Ap XXIV, p.266.1.
[3] Id. Ibid., AE III-VIII, p.335.1 e 2.
[4] Nelson KIRST alerta para o fato de que “Lutero não incluiu um ato penitencial nas duas grandes liturgias que elaborou (1523 e 1526). Algumas tradições protestantes “democratizaram” a antiga oração preparatória dos oficiantes. Essa oração preparatória “democratizada” passou a ser entendida como confissão de pecados e, como tal, entrou no culto regular de muitas tradições depois da Reforma.” Op. cit., p.125.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente... Compartilhe...

A fidelidade brotará da terra

O amor e a fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se abraçarão. A fidelidade das pessoas brotará da terra, e a justiça de Deus olhará ...