3. A Absolvição
Novamente
encontramos uma variedade de nomes para a Absolvição. Ela é chamada de
Confissão, Santa Absolvição, Poder das Chaves, as Chaves, Sacramento da
Penitência.[1]
Ao usar qualquer dessas designações, as Confissões Luteranas ou Livros
Simbólicos, referem-se à confissão e absolvição privada, e não a um grupo de
pessoas muitas vezes não identificáveis como no culto público.[2]
Nessa
situação privativa, a efetiva confissão dos pecados perde a sua força legalista
e a importância que ela tinha no período da pré-Reforma. A confissão pode ser breve,
sem necessidade de distinguir pecados veniais e mortais. O penitente deveria
confessar aqueles pecados que de forma especial oprimiam a sua consciência.
Teologicamente, as Confissões Luteranas, ao enaltecerem os benefícios e a
importância da confissão privada, focalizam especialmente a absolvição
pronunciada pelo ministro: “eu perdôo os
teus pecados...”.[3]
Assim
como no Batismo e na Santa Ceia, este é o perdão dos pecados aplicado ao
indivíduo, o qual é apropriado pela fé deste indivíduo no perdão dos pecados em
Jesus Cristo. Esta é a forma de absolvição que dá especial conforto e
consolação às consciências atribuladas pelo pecado. A certeza e o poder desta
absolvição direta está baseada no poder das chaves (Mt 16.19; 18.18 e Jo
20.22-23), o poder que Deus exerce por meio de seus ministros da Palavra
chamados, ou seja, pelo ministério público.
Várias
influências, práticas e teológicas, gradativamente levaram a Confissão e
Absolvição privada ao declínio. Derivada de práticas da pré-Reforma (o Confiteor do rito romano e as formas
cúlticas de orações confessionais públicas [Offene
Schuld] na Alemanha), confissões grupais no culto público tornaram-se
comuns. Nestas situações, as formas de “absolvição” eram expressas por meio de
orações de perdão, afirmações declaratórias (“eu vos declaro o perdão de todos
os vossos pecados, etc.”), e por meio de declarações simples da graça,
utilizando passagens genéricas da Escritura que falam do amor salvador de Deus
em Cristo pela humanidade em pecado.
As
formas de Confissão e Absolvição que se encontram nas Ordens I e II do Hinário
Luterano, são adaptações de formas que apareceram em várias ordens do século
XVI. Enquanto uma tem suas raízes na Confissão Privada e em situações
confessionais envolvendo grupos menores e, portanto, mais direta e
individualizada, a outra forma tem a intenção de ser mais geral ou uma
Confissão de grupo preparatória para o culto público. Neste caso, seguida por
uma declaração simples da graça na qual o pastor se inclui. Não é uma situação
de pastor versus penitente, como em
situações de confissão privada ou de pequenos grupos. Fica a critério do pastor
a decisão pela conveniência de usar uma ou outra.[4]
[1] Livro de Concórdia, Ap XII, p.197.39,
41; XIII p.223.4.
[2] Id. Ibid., Ap XII, p.208.99-103; Ap XXIV, p.266.1.
[3] Id. Ibid., AE III-VIII, p.335.1 e 2.
[4] Nelson KIRST
alerta para o fato de que “Lutero não incluiu um ato penitencial nas duas
grandes liturgias que elaborou (1523 e 1526). Algumas tradições protestantes
“democratizaram” a antiga oração preparatória dos oficiantes. Essa oração
preparatória “democratizada” passou a ser entendida como confissão de pecados
e, como tal, entrou no culto regular de muitas tradições depois da Reforma.” Op. cit., p.125.
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