Recentemente criou-se uma polêmica a respeito de crianças usando fardas da Polícia Militar, em São Paulo. Muito do que se falou não é verdade, como quase tudo que circula nas redes sociais. E como tem gente que acredita!!! Mas tem gente compartilhando foto de smartphone e caminhonete de luxo acreditando que vai ganhar uma. Ou as bananas envenenadas com vírus da AIDS… Parece que há gente para acreditar em tudo, como diria P. T. Barnum: “Nasce um otário a cada minuto”.
Mas a polêmica da farda aconteceu de fato. Envolveu a foto de uma criança bem pequena, que trajava roupas militares e segurava algemas e cassetete. Na verdade nem segurava, mais se apoiava no aparato de defesa. Os Direitos Humanos se pronunciaram, mostrando-se indignados pelo fato de a criança estar usando arma, mesmo que não letal. Estariam colocando a criança numa “situação constrangedora, vexatória”, porque estava com o cassetete.
Por esta razão voltou ao foco a capa de uma revista, que trazia um menino, vestido de princesa, e não escondia o rosto (talvez porque isso não seja vexatório, não seja “bullying”, pelo menos enquanto a criança não crescer e tenha que ver aquela foto pro resto da vida na internet). Mas a capa da revista que trata de escola é claramente uma apologia ao homossexualismo, concorde você com o comportamento homossexual ou não, a revista o defendeu. E é direito dela fazer. Vivemos (pouco a pouco perco esta esperança) em um país livre.
Quanto à primeira foto, discordo dos direitos humanos e é meu direito constitucional discordar. Assim como você tem o direito de concordar. E tem ainda o direito de discordar de mim. Não precisamos concordar para conversar. Apesar de que, grupos políticos hoje querem nos convencer de que se você não é do partido deles, você é contra, como se não pudesse existir um caminho alternativo. Mas há. E se pode aproveitar ideias boas, venham de onde vierem. Igualmente rejeitando as ruins.
Creio firmemente na frase “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.” (Frase cunhada pela biógrafa de Voltaire, Evelyn Hall, que resumiria o pensamento do filósofo, embora muitos estudiosos de Voltaire discordem desse resumo). Esta frase é falsamente atribuída a Voltare até em livros sobre o tema filosofia.
Então, voltando… Discordo de que a criança de farda esteja sendo “vexada”, humilhada. Pois se assim é, temos que concluir que é humilhante ser policial, ou usar qualquer farda.
Contudo, em parte deve mesmo ser humilhante trabalhar por um salário que muitas vezes não compensa, enquanto vereadores pelo Brasil todo estão se movimentando para subir em até 60% seus salários para a próxima legislatura, na certeza de que serão reeleitos ou, pelo menos, terão amigos seus ali no cargo...
Mas nossos policiais, apesar de salários nem sempre ideais e condições também pouco atrativas de trabalho, fazem com a honra que a farda merece. Eu teria orgulho de ver filhos fardados e trabalhando pelo bem da comunidade e do país. Assim como tenho orgulho de cada amigo policial que tenho. Oro por eles, para que Deus os proteja em seus deveres de NOS protegerem. E peço a Deus que eles não sejam corrompidos, como tantos já foram.
Sim, claro que no meio dos bons policiais há aqueles que não deveriam trajar as fardas. Assim como em igrejas há “lobos em pele de cordeiro”. Assim como havia um judas, que permanecerá eternamente na condenação.
Não quero polarizar, escolhendo um lado da discussão, mesmo porque, tendo a ouvir os lados e, como Paulo diz: “reter o melhor” (1º Tessalonicenses 5.21). Quero apenas refletir sobre o que estamos fazendo com as nossas crianças. É melhor que elas aprendam a respeitar a autoridade ou ter vergonha da farda?
Para aquelas crianças, que certamente têm em seus pais, seus heróis -- não aquela turma de alienados do BBB -- é claro que devem ter orgulho de vestir-se como seus pais. E uso outro exemplo:
Circulou recentemente na internet e ninguém falou muita coisa. Aliás, não deu polêmica. Foi o caso do menino Gustavo Carvalhaes Nascimento, que para sua festa de aniversário de 4 anos, não quis superheróis famosos, mas um desconhecido (não pra ele), gari em Belo Horizonte, como noticiou a imprensa: “A mãe do Gustavo, Junia Carvalhaes Nascimento, e o pai, Eustáquio Francisco do Nascimento, além da irmã de 20 anos, Bárbara Carvalhaes, apoiaram a ideia e realizaram o sonho do menino... Balões e tapete na cor laranja, lixeirinhas e até um minicaminhão coletor fizeram parte da decoração. Foram utilizados materiais recicláveis em quase todos os enfeites. O convite trouxe estampado um super-herói gari, chamando as pessoas para a festa. … Junia conta que não foi fácil compor as peças do cenário. Ela confessa que percebeu a expressão de surpresa dos que trabalham nesse ramo (festas infantis), ao contar o que precisava para a comemoração. E disse ainda: É mais fácil conseguir arranjos de personagens mais comuns, além de palhaços e ídolos de TV. Mas os heróis do meu filho são outros, os garis, e fizemos de tudo para que eles comparecessem”.
Dessa farda laranja, homenageando um herói anônimo, ninguém falou. Aliás, apenas uns poucos falaram e a foto não ficou semanas repercutindo em redes sociais.
Parece-me um problema cultural: não vemos mais os policiais como nossos heróis (se é que um dia vimos, nesse país dos “jeitinhos”). Assim como nunca vimos os garis, que deixam a cidade limpa, os enfermeiros que, tão delicadamente cuidam de nós, entre outros tantos “fardados” por aí.
E a culpa é de quem?
Na verdade não interessa de quem é a culpa. Se de alguns policiais que se tornam bandidos; se de setores da imprensa que só mostram quando policiais viram criminosos e não mostram os milhares que dão sua vida pela sociedade em silêncio; se de setores políticos que tentam desarticular a autoridade, minando recursos de operações, para impedir suas próprias prisões…
Eu prefiro a farda: de enfermeiro, de policial, de gari, de pai (e esta farda última tem cada vez menos gente sabendo usar)...
A este exemplo, na cidade de Jaguaribe, no Ceará (investiguei na internet e, até onde pude chegar, concluo que seja real, mas… Mesmo que não seja, expressa uma ideia latente.), foi posto um outdoor também pela Polícia Militar. Neste não há foto de crianças, mas de dois policiais, um é homem e outro mulher. E com os dizeres: “Você pode não gostar da Polícia; É UM DIREITO SEU. Você pode não acreditar em Deus; É UMA ESCOLHA SUA. Mas quando os bandidos invadirem a sua casa, as duas primeiras coisas que você fará é: 1º Chamar a polícia; 2º Orar a Deus para que cheguem a tempo.” E conclui com: “CONTE CONOSCO!” Acho que expressa bem muitas verdades silenciadas que temos vivido.
Ensinem as suas crianças a respeitarem a autoridade: pai, mãe e outros parentes, professores e todos que trabalham na escola, seu líder religioso… Não a abaixarem a cabeça e aceitarem passivas criminalidade, desrespeito, de quem quer que seja, mas a respeitar aqueles que honram a “farda”. Ensine a respeitar. Se você não ensinar, a vida vai ensinar a duras penas. E talvez aí seja tarde.
Jarbas Hoffimann é formado em Teologia e pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, em Nova Venécia.
twitter: @pastorjarbas
O Outdoor diz tudo! Excelente artigo! Parabéns!
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