
"PARE aí e tire as sandálias, pois o lugar onde você está é um lugar sagrado" (Êxodo 3.5), precisou ouvir um Moisés que deixou marcas de sangue no Egito e fugiu. Fazia 40 anos que tinha matado um egípcio para dar segurança aos seus patrícios. Seguiu o caminho da guerra em busca da paz, e deu no que deu. Agora precisava "tirar as sandálias" para atravessar o deserto e subir o monte. Pois a história antiga e a recente confirma isto, que é melhor tirar os sapatos antes que os atirem em nós. E o único jeito é agachando-se. Coisa complicada quando existe um rei na barriga. Por isto, se não conseguimos mais inclinar-nos, outros precisam fazer isto em nosso lugar. Para o Simão Pedro, que corta orelhas de soldados para proteger o Príncipe da Paz, é ele mesmo, o Mestre que desamarra as sandálias do aluno e diz: "Se eu não lavar os teus pés você não será mais meu discípulo" (João 13.8).
ESTE é um princípio amplamente defendido nestes tempos com sofisticados sapatos anatômicos, de justificar as conquistas pisando nos outros. Com palmilhas confortáveis, estamos insensíveis à dura realidade dos que vivem no chão da miséria. É a antiga filosofia hedonista com sola recauchutada – do culto ao prazer egoista – que enche o armário de calçados que nunca vai usar enquanto o próximo anda descalço. Por isto o alerta já naquela época: Não se conformem com este mundo secular (Romanos 12.2). Mais adiante o apóstolo aponta para um caminho sem tapetes vermelhos: Não sejam orgulhosos, mas aceitem serviços humildes. Que nenhum de vocês fique pensando que é sabio! Não paguem a ninguém o mal com o mal... (Romanos 12.16,17).
POIS nesta época do ano quando gastamos a sola dos sapatos adoidadamente atrás das compras, seria bom relaxar por alguns instantes, tirar o calçado e colocar os pés no chão. E assim, quem sabe, descobrir que se há tantos pés que se apressam para fazer o mal (Provérbios 6.18), ainda existem pés formosos, pés que anunciam coisas boas (Romanos 10.15), que calçam a prontidão para anunciar e viver o Evangelho (Efésios 6.15). O que não deixa de ser uma santa terapia, porque se Natal é aquele que disse "eu sou o Caminho", só mesmo tirando os sapatos, ter os pés no chão, e assim descarregar o estresse da fútil correria.
Marcos Scmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo-RS
18 de dezembro de 2008
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