1. O Sofrimento e o Sofrer
por Amor de Cristo
a. Por detrás disto está a
hora preferida do diabo para semear dúvidas no coração do cristão para
afastá-lo da confiança em Deus. É o momento da pergunta que não cala: Por quê?
Porque Deus permite esse sofrimento? O que fiz para merecê-lo?
b. Além do sofrer de todos
os homens, o cristão tem um exclusivo, que o mundo não conhece: a tentação de
ter de sofrer por amor do Senhor Jesus Cristo (1Pe 4.12,17). O sofrimento por
causa da justiça, da fé e de Cristo lhe parece questionável, estranho e difícil
de aceitar, escandaloso. Ele é voluntário; cessa se nego a Cristo. O desejo da
carne e o pensamento piedoso são usados pelo diabo contra o cristão, para que o
considere uma tolice, injustiça, e desista da fé.
c. Se o sofrimento
inevitável já é uma tentação séria, quanto mais o sofrimento que, segundo a
opinião do mundo e da carne e mesmo de meus piedosos pensamentos, seria
perfeitamente evitável. A liberdade [...] é lançada contra as obrigações do
cristão. Essa é a legítima tentação à apostasia.
d. Aqui se é conduzido à
comunhão no sofrimento de Cristo (1Pe 4.13) e a reconhecer o juízo que começa
pela casa de Deus. Esse sofrer, para Lutero, é a cruz e deve ser distinguido
dos sofrimentos dos descrentes. Porém, é fanatismo se não se reconhece o juízo
de Deus no sofrimento, executado mesmo em Cristo, o justo, sobre o pecado que
começa pela casa de Deus e se cumprirá sobre toda carne.
2. As Tentações
Espirituais – A Última Tentação
a. Lennart Pinomaa
descreve a tentação sob duas classes. A primeira é a tentatio relacionada ao pecado, quando se manifesta o
distanciamento entre Deus e os homens. Sua consequência é que se desenvolve o
pensamento de que “não sou digno de comparecer
diante de Deus”. Aqui a estratégia parte do próprio Deus com o objetivo de
vir ao encontro e criar um diálogo com o seu filho.
b. A segunda é a tentatio na dúvida de alguém a respeito
de sua eleição. Esta se manifesta na incredulidade e no sentimento de
desespero: “Será que sou verdadeiramente
um eleito de Deus e realmente alguém salvo”? É estratégico ataque de
Satanás sob a permissão de Deus.
c. Em Vogelsang estes são
o segundo e o terceiro níveis da tentação. Ou seja, a Anfechtung de natureza
espiritual, ou a voz da consciência falando alto e criando o sentimento de
desespero ao ver-se diante de (coram Deo)
Deus. E a Anfechtung relacionada à eleição de Deus no sentido de que sinto o
evangelho como algo que não “me diz
respeito”. Se manifesta como profundo e destrutivo sentimento de dúvida.
d. Bonhoeffer as
identifica com o tentar a Deus, isto é, pôr à prova a fidelidade, a verdade e o
amor de Deus transferindo-lhe a infidelidade, a mentira e a falta de caridade
que são nossas. A tentação dirigida à nossa fé na salvação nos expõe ao perigo
de tentar a Deus. Com tais tentações espirituais o diabo visa induzir o cristão
ao pecado da soberba espiritual (securitas)
ou ao do desespero (desperatio);
ambos são tentar a Deus.
e. A última é a tentação
para firmar aliança com o mal. É pecado intencional, do qual não há arrependimento
e confissão; que pisa aos pés o sangue de Cristo (Hb 10.26; 6.6); pecado mortal
pelo qual não se deve interceder (1 Jo 5.16ss); e contra o Espírito Santo, para
o qual não há perdão (Mt 12.31ss).
f.
“Se a suprema e mais
perigosa tentação para Lutero está relacionada ao nosso por que, diante do agir
de Deus, a mais severa ou aterrorizante é colocar em dúvida a graça de Deus” (A. Graff).
g. O exemplo de Maria, mãe
de Jesus, citado por Lutero em um dos seus sermões (pg 35 do caderno,
parágrafos 6ss).
h. Lutero menciona razões
pelas quais Deus age assim na vida de seus filhos.
i.
Uma:
ele combate nossa presunção de autossuficiência (Sl 30.6,7; 2Co 1.8-9).
j.
Outra:
Deus permite vivermos essas experiências para, por elas, sermos exemplos para
outros, a fim de despertar os seguros (securitas),
consolar o tímido penitente e o alarmado por causa de seus pecados (desperatio).
k. Finalmente, a principal
finalidade de Deus é nos capacitar a ser bons teólogos, eficientes cuidadores
de almas e ser capazes e suficientes educadores da justiça para ensinar seus
filhos a procurar o único e verdadeiro consolo, Jesus Cristo.
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