4. Lutero expõe o seu método no Prefácio ao primeiro volume dos seus escritos em alemão (1539), do qual diz:
a. Primeiro, você deve saber que as Santas Escrituras se firmam como livro que torna a sabedoria de todos os outros em loucura, pois nenhum ensina sobre a vida eterna a não ser só estas. Portanto, você deve de pronto, desesperar de sua razão e entendimento. (ou) Deves estar seriamente ciente de que a Sagrada Escritura é um livro assim, que transforma em loucura a sabedoria de todos os demais livros, porque nenhum além desse ensina sobre a vida eterna. Por isso deves desanimar imediatamente no que se refere ao teu senso e entendimento.
5. Oratio (a oração pelo dom do Espírito Santo)
a. A correlação de oratio e gratia Spiritus, põe em destaque sua ligação com a palavra de Deus. Lutero não deixa dúvida a respeito. No texto do Prefácio, declara que segue o exemplo de Santo. Agostinho por ter sido o primeiro e quase o único determinado a submeter-se às Escrituras Sagradas, sem a interferência de todos os pais e santos.
b. A isso Pieper acrescenta ser próprio ao teólogo, ao abrir a Escritura, não pôr fé alguma em sua inteligência, mas recomenda que “peça de Deus o seu Espírito Santo, pois só ele ensina alguém a entender a palavra de Deus e cria um espírito que se sujeita às Escrituras”.
c. Na exposição de Mateus 7.7-11 Lutero diz ser a oração, ao lado da pregação, a obra mais importante que o cristão faz. Estando expostos a tentações e perigos, é preciso orar sem cessar. Também na promessa, Deus o incentiva, encoraja a, confiantemente, continuar a pedir, buscar e bater; sem cansar ou desanimar, pois não o fará em vão.
d. Neste contexto afirma que a doutrina e a vida cristãs sofrem pressões e escândalos que atrapalham e impedem o progresso do evangelho. “Contra isso temos de lutar constantemente com todas as forças, e não há defesa mais forte que a oração”. Por ser este um mandato de Deus, o cristão não tem como eximir-se. “Não pensemos que isso não diga respeito ou que está em nosso arbítrio”.
e. Além do mandato há a “consoladora promessa e rica oferta que ele faz em relação à oração, para mostrar que se importa com isso”.
f. Só a promessa amiga do Senhor já seria motivo suficiente para nos incitar à oração. Pois, “quem não crer nessa promessa provoca a ira de Deus”.
g. Segundo Lutero, ter a correta palavra de Deus é bom começo para a doutrina e a vida cristãs. Mas há desgraças opressoras, tentações e resistências, que são motivo permanente de oração, pois seu alvo é abafar a palavra de Deus colocada dentro do cristão.
h. Elas vêm “do velho saco podre” (a carne) que cria a desatenção e a falta de vontade de lidar com a palavra de Deus. E vem do mundo, que quer nos tirar a palavra e a fé. E vem do adversário “mais poderoso, o miserável diabo”, que se vale de nossa maldade inata, da fraqueza de fé e espírito para se instalar e lutar contra nós.
i. Além disso, há necessidades materiais de sustento corporal, de paz, bom governo, proteção de doença, carestia, violência e outros males, e a necessidade de administrar a vida familiar.
j. Por tudo o que foi dito, o caminho mais curto e seguro, mas também a mais difícil arte é a oração. Pois o diabo se intromete e faz com que nos torturemos, fiquemos confusos pelas preocupações ao invés de orar. Por isso deveríamos aprender e guardar essas palavras no coração e acostumarmos [a orar] assim que surge uma angústia ou tribulação diante dos olhos, cair imediatamente de joelhos e apresentar a necessidade a Deus, segundo essa admoestação e promessa (Mt 7.7-11).
k. Ajoelha-te em teu pequeno quarto e ora a Deus com verdadeira humildade e ardor, para que através de seu Filho amado, Ele te conceda o seu Espírito Santo, que te iluminará e te dará entendimento.
l. Segundo Kleinig, Deus só dá seu Espírito Santo, que ilumina, por meio da Escritura (meio da graça); e só este dá a compreensão dela. Ele forma o teólogo tornando-o aluno seu, humilde e vitalício. A oração é para que Espírito se valha da Escritura para “interpretar o intérprete, e sua experiência, de tal sorte que ele veja a si mesmo e a outros sob a ótica de Deus”.
m. Sem o Espírito e a capacitação que ele dá ninguém sabe e nada se sabe da vida eterna; e o ensino da Escritura não passaria de mera teoria sem nenhuma realidade.
n. O valor da oração pelo dom do Espírito Santo não diminui por não ser esta um meio da graça; nem se deve descartá-la como aberração neopentecostal. Como os apóstolos (At 6.4), teólogos também precisam se dedicar à oração e ao ministério da palavra, pois nessa função é que o Espírito Santo age neles.
o. Neste contexto A. Graff aborda o dilema de ser a oração um diálogo ou monólogo. Filhos de Deus dificilmente questionam que é um diálogo. Mas isso não pode ser provado empiricamente. Os céticos afirmam que é monólogo. Estão certos, mas não como pensam. É monologo, pois quem fala na oração do cristão é o próprio Espírito (Rm 8.26-27).
p. É o próprio Deus que cria pensamentos e palavras na pessoa que ora. Deus faz tudo: dá o espírito de oração e a resposta. Lutero não separa a oração da ação do Espírito Santo, mas liga a oração às promessas da palavra de Deus.
q. Fica assim claro que a oração não pode ser separada da meditação na palavra de Deus.
6. Meditatio (a meditação na Palavra escrita)
a. Lutero afirma a inter-relação da oratio pelo dom do Espírito Santo com a meditatio, pois “Deus não lhe dará o seu Espírito Santo sem a palavra externa”. A Escritura é a palavra de Deus, inspirada pelo Espírito vivificador e o meio pelo qual nos inspira e potencializa, realizando sua obra em nós. Sem a meditação na palavra ligada à oração não se tem o Espírito. Ambas são essenciais!
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