quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Concílio no Espírito Santo - 5


A Formação do Teólogo
Em conversa à mesa Lutero tratou do que faz da pessoa/sujeito um teólogo. De que é feito um teólogo?

A lista abaixo: cita as características do teólogo profissional e revelam a tensão existente na linha que vai do dom espiritual de Deus (1) à obra de formação humana (6). Para visualizar esta tensão poder-se-ia estabelecer dois gráficos:

1.      Da graça operada pelo Espírito Santo (gratia Spiritus);
a.       A primeira das seis características é a fundamental para alguém ser teólogo. A graça do Espírito, o Spiritus creator, cria a vida. É obra exclusiva do espírito de Deus, e isto mediante a sua palavra, o “espírito da sua boca” (Sl 33.6), com a dádiva da linguagem e expressão da racionalidade, (Gn 1.29).
b.      O que se conecta à subjetividade da teologia, ao curso da palavra de Deus, e à história de vida do teólogo. Só a partir da plena compreensão da graça do Espírito pode o teólogo avaliar, adequadamente, todas as outras características, em especial a sexta, i. e., o conhecimento e da prática das ciências. Em especial porque o cristão se identifica mais com Deus pela sua graça e bondade do que pela sabedoria (Tt 1.16; 1Co 8.1-3).
2.      Da tentação (tentatio)
a.       Bayer mostra que para Lutero não há distinção etimológica de provação (Versuchung) e tentação Anfechtung), pois tanto o texto greto (πειρασμόν) com a vulgata (tentatio) usam o mesmo termo para ambas.
                                                                     i.      Vários pastores fizeram comentários, sobre a questão da tentação pelas quais passamos, como experiência de vida. E que Deus permite que passamos.
                                                                   ii.      Rev. Leopoldo Heimann lembrou que quando Abraão, quando foi levar seu filho ao sacrifício, era provação e que sempre vem de Deus. Já Davi, quando adulterou, caiu em tentação, caiu de si mesmo. Em provação o sujeito sempre é Deus e tentação o sujeito sempre sou eu. E na questão de que Deus se faz o diabo (frase constante do estudo e que gerou muitas manifestações entre os conciliares), na verdade é que Deus permite que o tentador aja e que esta é uma é uma expressão retórica caduca de Lutero que ele não diria mais hoje.
b.      tentatio não permite que a certeza da salvação seja só um saber cognitivo. Sobre ela Lutero diz: “ensina não só a saber e compreender, mas também a experimentar quão acertada ... doce, ... agradável, ... poderosa, ... consoladora é a palavra de Deus” e não a sua fé. Pois, Lutero traduz assim Isaías 28.19: “somente a tentação ensina aprestar atenção na palavra”.
3.      Da experiência (experientia)
a.       Experiência não é para Lutero actio (ativo), mas passio (passivo), experiência que sofro pela palavra de Deus e que me sobrevém na tentação. A expressão de Lutero: “Sola experientia facit theologum”, afirma não a experiência por si só, mas com a Escritura Sagrada.
b.      Pieper diz que os cristãos experimentam, pela graça de Deus, mediante as Sagradas Escrituras, a palavra de Deus escrita, que estas são, de fato, a palavra de Deus. Pois elas criam a fé que as reconhece como tal. “E atente que a experiência criada pela Escritura é realidade, enquanto é ilusão a experiência do s que baseiam a sua fé em qualquer outra coisa que não a Escritura e buscam deduzir o conhecimento da verdade de seus próprios corações. ... Se nós teólogos queremos conhecer e ensinar a verdade e não o erro precisamos continuar na palavra de Cristo. E a temos na palavra do próprio Cristo e dos seus apóstolos. (Jo 1.20)”.
                                                                     i.      Rev. Odair Denzin sugeriu que da parte da diretoria nacional deveria vir alguma orientação quanto à valorização dos pastores com maior experiência e não pelo custo baixo dos mais novos.
                                                                   ii.      Rev. Geraldo destacou que a diretoria nacional tomou o cuidado de convidar dois pastores eméritos para estes estudos, reconhecendo seu valor de experiência.
                                                                 iii.      Lembrou ainda que nos locais onde a IELB comissiona, está procurando enviar pastores mais experientes. E que isto pode até encarecer o orçamento da IELB, por outro lado tem gerado melhor resultado para a missão.
4.      Da oportunidade (occasio)
a.       É a oportunidade favorável (tempo), que não posso produzir por mim mesmo, mas me é concedida de modo contingente e junto traz o chamado: “Faz uso da hora e daquilo que a hora traz consigo”.
b.      Lutero: “A oportunidade (occasio) te saúda e te estende a cabeleira, como se dissesse: olha, aqui me tens, agarra-me! Ora, pensas, ela certamente voltará. Ah é, diz ela, se não me queres, então me pega no traseiro (como de costume)”.
c.        [...], colhei enquanto o sol brilha e o tempo é bom; aproveitai a palavra de Deus e sua graça enquanto estão aí. Pois é preciso saber que a palavra de Deus e sua graça são como a chuva de verão, que não retorna ao lugar por onde passou.[...] Portanto agarre quem puder [...].
d.      Importante é perceber o instante concedido, a “horinha certa”. É ver a oportunidade e a aproveitar ativamente.
e.       A promessa do evangelho é que carrega, ao ponto extremo, a urgência de perceber a occasio (a oportunidade), o καιρὸς (2Co 6.2; Is 49.8). Bayer diz: O evangelho deve ser dito reiteradamente de maneira nova, sem que seja dito algo novo — algo diferente —, porque o que deve ser dito de maneira nova é aquele novo que nunca ficará velho. É por isso que o evangelho deve ser interpretado de maneira sempre nova; mas — diferente do mito — ele não pode adquirir uma forma fixa sem perder seu caráter definitivo.
f.        Saber se é tempo da lei (tempus legis) ou do evangelho (tempus evangelii) é o que determina se alguém é teólogo; é a culminância da percepção da occasio.
5.      Do estudo constante, concentrada do texto (sedula lectio)
a.       Deus se comunica com o ser humano através da linguagem humana (escrita). Estudar e compreender o texto para então ensiná-lo publicamente é uma das atividades diárias do teólogo.
6.      Do conhecimento e da prática das ciências (bonuarum artium cognitio)
a.       Esta é a característica mais ligada ao conceito acadêmico da teologia. A racionalidade da linguagem ou é formada ou é deformada, deturpada. Lutero destaca a competência nos idiomas; afirma que sem este conhecimento e prática (cognitio), o teólogo não está capacitado a exercer sua profissão.
b.      Lutero enfatiza o conhecimento da gramática, da retórica, da poesia e da história e outras ciências.

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